TALISCA ostentação Cria de projeto social, jogador foi vendido duas vezes pelo Bahia
DE SÃO PAULO
Anderson Talisca aproveitou o bônus recebido pela assinatura do seu primeiro contrato depois de ser promovido para o time profissional do Bahia, emjaneiro de 2013, para pôr em sua garagem um Veloster vermelho, avaliado em R$ 70 mil, com rodas chamativas e som potente.
A compra do carro lhe rendeu umpuxão de orelhas público do técnico Jorginho e uma sequência de jogos sentado no banco de reservas.
Quase dois anos se passaram, e o meia- atacante mantém as roupas descoladas, deixa o moicano da moda no cabelo e não abandonou o gosto pelos carrões. Mas sua maior ostentação é o futebol.
Talisca, 20, ou Neymar com Dendê, como é chamado, é a sensação brasileira na atual temporada europeia.
Bastaram 15 jogos ( e nove gols) no Benfica para o ex- jogador do Bahia entrar na mira de gigantes da Europa, receber elogios de José Mourinho, técnico do Chelsea, e chegar à seleção principal.
Convocado inicialmente para o time sub- 21 do Brasil, Talisca acabou sendo promovido para a equipe adulta nesta segunda ( 10) depois do corte de Lucas, do Paris SaintGermain, que sofreu uma fra- tura no pé direito.
No elenco para os amistosos contra Turquia, nesta quarta ( 12), e Áustria, na próxima terça ( 18), o artilheiro do Português terá agora a oportunidade de concretizar a hashtag descrita como meta emseu perfil no Whatsapp: “# EmBuscaDeumSonho”.
“Emdois meses, ele conseguiu estragar o carro. Você precisa cortar as asas enquanto é criança, se não perde o controle. Mas a qualidade dele sempre foi apuradíssima”, disse à Folha Jorginho, técnico do Bahia em 2013.
E esse não é o único caso que deu ao jogador baiano a imagem de marrento.
Durante o torneio de Toulon de 2013, disputado por seleções sub- 21, não quis acompanhar os outros jogadores e o técnico Alexandre Gallo, coordenador técnico da CBF, em uma visita a um museu.
“Talisca não é indisciplinado, mas tem suas vaidades. No Brasil é assim: se você tem muito talento, os dirigentes sempre passam a mãoemsua cabeça, perdoam tudo”, conta Charles Fabian, que o dirigiu no sub- 20 do Bahia.
Arsenal, PSG e Chelsea parecem não se importar com esse jeito de Talisca. Seu estafe já prevê a transferência do jogador em junho, mesmo com multa rescisória de € 45 milhões ( R$ 144 mi).
DE SÃO PAULO
As longilíneas e magricelas pernas que renderam ao garoto Anderson o apelido de Talisca ( no dicionário, pequeno sarrafo) e hoje encantam os portugueses com chutes precisos de fora da área já foram muito usadas para desferir golpes de capoeira.
O novo selecionado começou a carreira em um projeto social em Feira de Santana ( BA) que utilizava a arte marcial brasileira como estratégia de treinamento de futebol.
Foi graças à Fazenda do Menor e ao Astro, clube ligado ao projeto, que Talisca fez sua primeira viagem internacional, ainda na adolescência, para disputar umtorneio de futebol de rua na Suíça.
Depois de umaexperiência frustrada no Vasco, chegou ao Bahia em2009. Ficou quatro anos nas categorias de base até ser levado por Jorginho à equipe adulta. E foi vendido duas vezes pelo clube.
Primeiro, teve seus direitos econômicos fatiados em quatro partes para render dinhei- ro ao Bahia sem ter de mudar de equipe. O agente Carlos Leite e uma empresa ligada a Bobô, ídolo e campeão brasileiro pelo time em 1988, compraram partes da promessa.
O clube ficou sem nenhumaparticipação emumapossível futura venda do jogador. Quando a proposta de € 4 milhões ( R$ 12,8 milhões) do Benfica chegou, em julho, o Bahia se recusou a aceitá- la.
A solução: cada parceiro cedeu ao clube metade do valor a que teria direito. Com isso, o time de Salvador conseguiu arrecadar aproximadamente R$ 6 milhões.
Já o Astro, o primeiro clube de Talisca, faturou R$ 800 mil com a transferência. Valor que pagou as contas atrasadas de água e luz e serviu para que o projeto social que descobriu o agora astro do Benfica fosse reativado.
“Não foi um dinheiro que resolveu todos os nossos problemas, mas nos ajudou bastante”, afirmou o diretor de esportes da Fundação de Apoio ao Menor de Feira de Santana, Antônio Rocha. ( RR)