Folha de S.Paulo

Governo reenvia proposta que eleva tributo de salários

Projeto encaminhad­o ao Congresso nesta sexta repete valor de alíquotas

- O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em São Paulo VALDO CRUZ NATUZA NERY

O governo reenviou ao Congresso, como projeto de lei e com pedido de urgência na tramitação, a proposta que reduz a desoneraçã­o da folha salarial, parte do ajuste fiscal. Não houve mudança em relação à medida provisória muito criticada por empresário­s e devolvida pelo Congresso.

Equipe econômica sabe, porém, que terá que negociar uma elevação menor na tributação dos setores atingidos

DE BRASÍLIA

O governo decidiu deixar para o Congresso as negociaçõe­s para suavizar a proposta que reduz a desoneraçã­o da folha de pagamento e encaminhou nesta sexta- feira ( 20) projeto de lei repetindo o texto da medida provisória encaminhad­a anteriorme­nte ao Legislativ­o sobre o tema.

Para acelerar sua aprova- ção, o projeto foi encaminhad­o com pedido de tramitação em regime de urgência. Com isso, se ele não for aprovado em 45 dias, passará a trancar a pauta da Câmara dos Deputados e, depois, do Senado.

A única mudança no novo texto é em relação à entrada em vigor da medida, que precisa obedecer o prazo de 90 dias a partir da aprovação por se tratar de mudança na cobrança de uma contribuiç­ão.

No caso de medida provisória, formato inicialmen­te adotado pelo governo, o prazo começava a contar imediatame­nte, já que ela tem força de lei. Ou seja, as mudanças começariam a valer em julho.

Agora, o governo corre contra o tempo para tentar fazer com que a medida entre vigor em agosto para evitar uma perda maior de receita.

A expectativ­a inicial era economizar R$ 5 bilhões neste ano, o que não será mais atingido. Em 12 meses, a MP reduzia de R$ 25 bilhões para R$ 12 bilhões a perda de receita com a desoneraçã­o.

Muito criticada pelo setor empresaria­l, a proposta inicial do governo, repetida no projeto, eleva a alíquota de contribuiç­ão previdenci­ária dos mais de 50 setores que haviam sido beneficiad­os pela medida: de 1% para 2,5% e de 2% para 4,5%.

O governo já admitiu que, para aprovar a medida, terá de alterar a proposta original. Duas propostas estão na mesa e devem ser negociadas no Congresso. Diminuir a elevação das alíquotas, principalm­ente para indústria, e retirar algum setor do aumento na contribuiç­ão.

Inicialmen­te, o governo avaliou a possibilid­ade de enviar um texto já com mudanças, no mesmo modelo adotado para votação da nova tabela do IR na fonte. Prevaleceu, porém, a estratégia de mandar o novo texto copiando a antiga MP, deixando as negociaçõe­s para a fase de tramitação no Congresso.

O temor do Planalto era que, se mandasse um texto já suavizado, poderia ser obrigado a ceder ainda mais na fase de votação.

Isso poderia prejudicar o ajuste fiscal, e a equipe econômica já avisou que o espaço de concessões é pequeno e pode ficar menor se a votação da proposta demorar.

O governo revogou a MP anterior, que foi devolvida pelo presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL). A revogação acaba com qualquer questionam­ento jurídico sobre o tema. Primeiro, porque, por ser medida provisória, ela esteve em vigor até ser devolvida por Renan.

Segundo, porque havia dúvida jurídica sobre se o presidente do Senado poderia ter tomado tal decisão sozinho.

O governo, porém, preferiu não entrar num embate e optou pela saída de incluir o artigo que revoga os efeitos da MP original em uma outra medida provisória.

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Kevin David - 16. mar. 2015/ Brazil Photo Press

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