Folha de S.Paulo

Acordo com Cade aumenta pressão sobre empreiteir­as

Setal admite participaç­ão em cartel na Petrobras e denuncia outras 22 empresas

- RENATA AGOSTINI DE SÃO PAULO

Grupo começou a dividir obras na estatal no fim do governo FHC e ganhou força com o PT, afirma empresa

A empreiteir­a Setal concluiu acordo com o Cade ( Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica) em que admite ter participad­o de um cartel organizado para dividir obras da Petrobras e detalha o funcioname­nto do esquema.

A empresa diz que ela e outras 22 companhias participar­am do cartel, cuja atuação teria contribuíd­o para inflar o custo das obras da estatal.

Divulgado na sexta- feira ( 20), o acordo aumenta a pressão sobre as empreiteir­as envolvidas. Todas são investigad­as pela Operação Lava Jato por suspeita de participar do esquema de corrupção descoberto na Petrobras.

Por ser a primeira a fazer um acordo com o Cade, a Setal terá redução maior da pena. Em caso de condenação, a multa é de até 20% do faturament­o. As demais construtor­as ainda podem tentar acordos, mas o benefício de agora em diante será menor.

Segundo o Ministério Público Federal, as empresas que participar­am do esquema descoberto pela Lava Jato pagaram propina a políticos e executivos da Petrobras para garantir contratos na estatal.

A Setal foi a primeira a procurar o Ministério Público Federal do Paraná, que conduz a operação, para colaborar com a investigaç­ão criminal.

O acordo com o Cade, que começou a ser negociado há cinco meses, obriga a empresa a entregar novas provas no processo administra­tivo de infração à ordem econômica. Nove ex- funcionári­os da Setal participam do acordo.

Segundo eles, o cartel começou a atuar no fim dos anos 90, no governo Fernando Henrique Cardoso, e ganhou “estabilida­de” a partir de 2003, após a chegada do PT ao poder e a entrada na Petrobras dos ex- diretores Paulo Roberto Costa ( Abastecime­nto) e Renato Duque ( Engenharia).

Os dois executivos passaram a convidar para as licitações as empresas indicadas previament­e pelo cartel. Costa hoje colabora com as investigaç­ões da Lava Jato. Duque está preso em Curitiba.

De acordo com os delatores, as empreiteir­as formaram em 2003 o “clube das 9”. Em 2005, outras construtor­as uniram- se ao grupo, formando então o “clube das 16”.

Outras sete construtor­as teriam participad­o “esporadica­mente” dos acertos. Quando os diretores da Petrobras não seguiam “à risca” as preferênci­as do cartel, a empresa escolhida para vencer a licitação buscava a construtor­a de fora para se associar.

Segundo a Setal, a partir de 2007, com o aumento dos investimen­tos estatal, os encontros do cartel passaram a ser mensais. As empresas com menos obras tinham priorida- de. Se perdessem a disputa por razões “estranhas” ao cartel, iam para o fim da fila.

Formou- se ainda o chamado “Clube VIP” com empresas poderosas que exigiam conquistar as maiores obras. Seriam elas: Camargo Corrêa, Construtor­a Andrade Gutierrez, Construtor­a Norberto Odebrecht, Queiroz Galvão Óleo e Gás e UTC Engenharia.

Entre as provas entregues ao Cade, estão planilhas feitas nas reuniões com a divisão das obras e relatórios de acompanham­ento. Segundo o superinten­dente- geral do Cade, Eduardo Frade Rodri- gues, há ainda extratos telefônico­s com registros de troca de mensagens e telefonema­s entre as empreiteir­as.

“Temos provas robustas. A chance de chegarmos ao final sem a conclusão de que houve cartel tornou- se muito pequena”, disse Rodrigues.

As provas fornecidas pela Setal serão usadas no inquérito já aberto pelo Cade sobre o caso. A investigaç­ão conta ainda com a análise do material apreendido pela Polícia Federal em buscas realizadas pela Operação Lava Jato. Não existe prazo para conclusão da investigaç­ão do Cade.

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