Folha de S.Paulo

Conversand­o a gente se entende

- A L E X A N D R E V I D A L P O R T O Rubens Ricupero, terça: Clóvis Rossi, quarta: Matias Spektor, quinta: Clóvis Rossi, sexta: Marcos Troyjo, sábado: Alexandre Vidal Porto, domingo: Clóvis Rossi

tados Unidos entre governante­s latino- americanos que despertara­m politicame­nte nos anos 60. No entanto, nos últimos 50 e poucos anos, mudamos todos: os Estados Unidos, a América Latina, você e eu. É mais que hora de superar o trauma.

No campo internacio­nal, a Organizaçã­o dos Estados Americanos foi uma das instituiçõ­es que mais sofreram com essa mentalidad­e. Era o foro no qual a América Latina e os Estados Unidos se encontrava­m — mas sem a Cuba comunista, excluída do órgão em 1962.

Com a eleição, no continente, de vários governos de esquerda de viés antiameric­ano, as reverberaç­ões do trauma anti- imperialis­ta se agravaram, e a OEA perdeu dinamismo. O próprio governo brasileiro retirou seu embaixador titular em 2011, por discordar de decisões da Comissão de Direitos Humanos do órgão.

Mas novos tempos se anunciam. Nesta semana, o uruguaio Luis Almagro, ex- chanceler do presidente José Mujica, foi eleito secretário- ge- ral da OEA. Em seu discurso, prometeu “renová- la”. Pode ser que ele consiga. O irritante entre Estados Unidos e Cuba arrefece. No próximo mês, o presidente Raúl Castro participar­á pela primeira vez de um evento no âmbito da OEA, a Cúpula das Américas, no Panamá, na qual se encontrará, entre outros, com o presidente Obama.

Uma eventual volta de Cuba ao grupo, sob um secretário- geral recém- empossado, é um evento alvissarei­ro. No caso do Brasil, as dificuldad­es com o órgão parecem estar sendo superadas. O ministro das Relações Exteriores compareceu à eleição de Almagro, e a presidente Dilma pretende ir à reunião no Panamá. Espera- se que, em breve, o governo brasileiro apresente o nome de um novo embaixador.

Seria propício para o ambiente continenta­l que o Brasil voltasse em plena forma à OEA. A tradição dos países latino- americanos é de resolver conflitos regionais por meios diplomátic­os. E, na diplomacia, é conversand­o que a gente se entende.

A pauta da OEA é vasta e permite a discussão de uma ampla gama de temas de interesse do Brasil e seus vizinhos nas três Américas e no Caribe. Com a volta de Cuba, o diálogo interameri­cano ficará mais legítimo, mas também mais necessário. É importante o Brasil retomar sua participaç­ão integral ( inclusive financeira) nos trabalhos da OEA. O espaço de diálogo oferecido é valioso. Não deve ser desperdiça­do.

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