Folha de S.Paulo

Construtor­as preveem onda de demissões

Em Estados do Nordeste, governo atrasa de 20 a 75 dias pagamentos de R$ 175 milhões

- RENATA MOURA

COLABORAÇíO PARA A FOLHA, EM NATAL ( RN)

Construtor­as que atuam no projeto do Minha Casa, Minha Vida ( MCMV) no Nordeste dizem que o governo federal atrasou pagamentos de R$ 175 milhões e, por isso, ameaçam paralisar as obras e ampliar as demissões no setor.

O montante se refere apenas a quatro Estados ( Bahia, Ceará, Maranhão e Rio Grande do Norte), de acordo com os sindicatos locais da construção civil, e o atraso varia de 20 a 75 dias. O problema atinge principalm­ente as construtor­as menores.

Os pagamentos ficam a cargo do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal e deveriam ser liberados 15 dias após a medição das obras. Procurados, os bancos não falaram. Informaram que só o Ministério das Cidades comentaria o caso.

Fonte para o dinheiro repassado às construtor­as, o ministério afirmou que “o cronograma de pagamentos segue com o fluxo normal”. Região do país que concentra o maior índice de obras em andamento ( 34,4%), todo o Nordeste soma 439,1 mil unidades do MCMV em construção ou não iniciadas.

As demissões, segundo diretores do Sinduscon, começaram já no ano passado. CAGED ‘ NO VERMELHO’ Segundo dados do Caged ( cadastro de empregos do Ministério do Trabalho), o setor da construção civil no Nordeste está no vermelho: saldos negativos ( registro de mais demissões do que contrataçõ­es) de 9.635 vagas em fevereiro e 19,8 mil no primeiro bimestre ( o pior saldo entre as cinco regiões).

Responsáve­l pelo programa, o governo federal nega que haja atraso. Os imóveis do MCMV são casas e apartament­os para famílias com renda de até R$ 1.600.

“Pela incerteza de pagamentos, as empresas retardam a compra de material e a abertura de frentes de trabalho”, afirma o presidente do Sinduscon- Bahia, Carlos Henrique Passos.

O Estado é o que tem a maior quantia de repasses atrasados — R$ 80 milhões.

“Chegou a um ponto que não conseguimo­s suportar”, diz o presidente do Sinduscon no Maranhão, Fábio Na-hu z. Segundo ele, há possibilid­ade de paralisaçã­o a partir de abril, caso os repasses não sejam regulariza­dos.

No Ceará, os atrasados giram em torno de R$ 30 milhões e até 10 mil trabalhado­res dessas obras foram demitidos desde novembro.

No Rio Grande do Norte, os atrasos chegam a R$ 15 milhões, diz o Sinduscon- RN. “Não temos como trabalhar com despesas altíssimas e sem receber”, afirma o diretor Carlos Luiz Cavalcanti.

Segundo o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, José Carlos Martins, os atrasos ocorrem em todo o país desde o segundo semestre de 2014. Ele não possui o valor global.

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