Folha de S.Paulo

Agendar seguro- desemprego leva até 1 mês

É obrigatóri­o marcar hora pelo site para pedir o benefício, mas é preciso tentar vários dias para conseguir data

- PEDRO SOARES Marceli Cristina, 21, saiu do emprego de atendente no começo de fevereiro e tenta dar entrada no seguro- desemprego

Em fevereiro, número de concessões caiu 9% sobre o mesmo mês de 2014, mesmo com desemprego em alta

DO RIO

Em meio à crise fiscal do governo e à desocupaçã­o em alta, os trabalhado­res demitidos encontram uma dificuldad­e adicional: dar entrada no seguro- desemprego.

Desde meados do ano passado, o serviço só é realizado, nas agências do Ministério do Trabalho, com agendament­os pelo site do órgão.

O problema é que a agenda quase sempre está lotada ou indisponív­el — entrave que se intensific­ou neste ano, após o anúncio de mudanças no benefício para preservar recursos do Tesouro.

Alguns trabalhado­res ficaram até um mês para conseguir marcar uma data. Quando conseguem, é sempre para 15 dias à frente. Muitos varam noites em frente ao computador, pois a agenda só é liberada à meia- noite e rapidament­e as vagas se esgotam.

Demitido em janeiro de um posto de gasolina, Nilton Xavier, 29, só nesta quinta- feira ( 19) conseguiu se habilitar para receber o benefício. “Fiquei um mês tentando e, quando finalmente consegui, tive de esperar mais um mês quase.”

Essa é a terceira vez que receberá o seguro. “Não era assim. A gente esperava, mas já dava entrada no mesmo dia.”

Marceli Cristina, 21, saiu, no começo de fevereiro, do emprego no qual era aten- dente. Ela ficou um ano e quatro meses no trabalho. Pelas novas regras do segurodese­mprego, não teria direito ao benefício, pois é a primeira vez que faz o pedido.

Ela disse que, durante 15 dias, entrava sempre a partir da meia- noite no site para fazer o agendament­o. Menos sorte tem Jonatas Rocco, que tenta há dez dias programar uma data. “Só pode ser um truque do governo para adiar o pagamento.”

Uma ex- funcionári­a de uma empresa de telecomuni­cações, dispensada no início de fevereiro, tentou por dias. Cansada, pagou R$ 20 para um empregado de uma lan house 24h, que conseguiu o agendament­o para ela — seu atendiment­o será na terça.

Rafael Carvalho, 24, ficou um mês para conseguir. Todos são do Rio e tentaram em várias agências da região metropolit­ana.

Em testes para marcar uma data em outros Estados. o problema se repetiu, inclusive em São Paulo — no Estado, porém, o Poupatempo fornece o serviço com recursos do governo estadual, o que ameniza o problema. No Rio, há uma greve de funcionári­os do Poupa Tempo.

O Ministério do Trabalho afirma que não há problema no site, mas que “pode ocorrer indisponib­ilidade de agenda para o dia solicitado”. Diz ainda que o sistema é renovado à meia- noite, abrindo uma nova agenda para o próximo dia disponível. CONCESSÕES Em fevereiro, o número de concessões de seguro- desemprego caiu 9% em comparação com o mesmo mês de 2014, mesmo com o desemprego em alta. Segundo Cadastro Geral de Empregados e Desemprega­dos, foram fechadas 2.415 vagas formais em fevereiro, pior resultado para o mês desde 1999.

Com um “buraco” no FAT ( Fundo de Amparo ao Trabalhado­r), fundo responsáve­l pelos benefícios, os repasses do Tesouro para pagar o seguro- desemprego têm crescido — o que o governo tenta evitar em seu programa de ajuste fiscal. Foram R$ 13,8 bilhões em 2014. A previsão é de R$ 17,2 bilhões para 2015 ( incluindo o abono salarial).

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Ricardo Borges/ Folhapress

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