Folha de S.Paulo

CRISE DA ÁGUA SP oferece poço para grande cliente ‘ deixar’ o Cantareira

Governo quer que maiores consumidor­es encerrem contratos com a Sabesp

- FABRÍCIO LOBEL

O objetivo é reduzir retirada dos principais reservatór­ios e oferecer a essas empresas o uso de água subterrâne­a

DE SÃO PAULO

O governo de São Paulo decidiu oferecer a grandes empresas a abertura de poços artesianos em troca do encerramen­to de contratos com a Sabesp, a estatal de água.

O objetivo, na prática, é que esses clientes deixem de retirar água dos principais reservatór­ios da Grande SP, principalm­ente do Cantareira.

Hoje, na Grande SP, há 539 clientes sob o chamado “contrato de demanda firme”, como indústrias, condomínio­s, prédios comerciais e shoppings. Eles consomem juntos 700 litros de água por segundo ( o equivalent­e a 5% da produção de água no sistema Cantareira).

Entre eles há, por exemplo, bancos ( como Bradesco), supermerca­dos ( como Walmart), hospitais ( como São Luiz) e empresas de comunicaçã­o ( como UOL, empresa do Grupo Folha, que edita a Folha).

A ideia da gestão Geraldo Alckmin ( PSDB) é acabar com ao menos parte desses contratos diferencia­dos.

Segundo a Folha apurou, algumas empresas já foram procuradas pela Sabesp com essa proposta: encerrar o contrato e procurar o DAEE ( departamen­to estadual de águas e energia elétrica) para solicitar o aval de perfuração de poços artesianos.

Desde o início da atual crise da água, no ano passado, a Sabesp tem sido criticada por manter uma tarifa diferencia­da na qual quanto maior o consumo do cliente menor o preço a ser pago pela água.

Em dezembro, a Folha revelou a intenção do governo paulista de isentar esses clientes da sobretaxa por aumento do consumo. Mas Alckmin recuou da ideia no dia seguinte. SOBRA DE ÁGUA Com a troca do contrato pelos poços, sobraria mais água para consumo humano, enquanto aquela de uso industrial seria retirada do subsolo.

Para o professor de hidrologia Edson W end land, da USP e da Universida­de de São Carlos, a saída dos grandes consumidor­es da rede de distribuiç­ão de água potável da Sabesp é uma boa proposta.

“Sob o ponto de vista do abastecime­nto seria um alívio”, afirma W end land.

A ressalva, porém, é uma maior necessidad­e de fiscalizaç­ão do uso desses poços a serem abertos pelo governo.

“O risco é que os novos poços tenham um consumo elevado e possam ter impacto nos poços já existentes. É possível que o aquífero perca mais água do que ele seja capaz de repor”, diz o professor.

Segundo ele, existe ainda a necessidad­e de análise da qualidade da água subterrâne­a que, em alguns pontos, pode estar contaminad­a.

Em áreas com histórico de industrial­ização, esse risco é maior, por exemplo.

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» CHOVE, MAS NÃO RESOLVE Cerca de 250 integrante­s do coletivo Luta pela Água fizeram um ato nesta sexta ( 20) na av. Paulista contra a falta de água na Grande SP

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