Liderou as mulheres pela anistia
DE SÃO PAULO
Therezinha Zerbini se destacou pela “coragem de mamãe onça” — nas palavras dela— com que enfrentava situações difíceis, como os seis meses em que ficou detida durante a ditadura. Ao mesmo tempo, era reconhecida pela delicadeza e gentileza no trato com as pessoas.
Em entrevista à Folha, afirmou acreditar só não ter sido torturada porque desafiou seu algoz. “Capitão, tenha compostura, eu não estou aqui para ouvir grito”, disse.
Casada com o general Euryale de Jesus Zerbini, cassado e reformado no golpe de 1964, nunca quis que o marido pedisse ajuda para tirála da prisão. “Entrei e saio dessa sozinha”, dizia.
Advogada, foi enquadrada na Lei de Segurança Nacional por sua defesa dos direitos humanos durante a ditadura.
No presídio Tiradentes, em São Paulo, onde conheceu a presidente Dilma, era chamada de “burguesona”, pois sua família sempre lhe enviava “coisas gostosas”, como pernil e laranjas, que eram divididas com as companheiras.
Therezinha, que não era comunista, mas sim “uma mulher aberta”, fundou em 1975 o Movimento Feminino pela Anistia, que lutava pela redemocratização do país.
O anseio de mudança vinha desde os 16 anos, quando, com tuberculose, foi para um sanatório e viu “a diferença entre ricos e pobres”.
Conheceu o marido na época em que trabalhava no hos- pital do Mandaqui. Ele, 20 anos mais velho, comandava a Força Pública do Estado, e Therezinha foi pedir ajuda para erguer um muro que caíra.
Morreu no sábado ( 14), aos 86. Viúva desde a década de 1980, deixa os filhos, Eugenia e Euryale, e duas netas. coluna. obituario@ uol. com. br