Medina dá aula de depilação
PRIMEIRO VOCÊS começaram a usar nossos cremes hidratante, depois foram os antiidade. Como diria minha avó, pelo andar da carruagem, em breve poderemos ir à mesma clínica de depilação. Estou exagerando? Provavelmente não, caso contrário o garoto- propaganda do momento não seria o corpo, quero dizer, o rosto da campanha de uma marca de lâmina de barbear.
Gabriel Medina aparece em vídeos ensinando passo a passo como raspar a barriga, o peito e a axila, “ou o sovaco como a gente chama”, diz o surfista em um deles, o que me provocou um ataque de riso. Não por estar ali protegendo o mamilo e explicando basicamente como a primeira faz tchan e a segunda faz tchun. Ele é uma graça, mas tem zero desenvoltura.
Parece mais à vontade para contar que depila o corpo do que para
Não é só o futebol que está diferente, são os homens. Estão diferentes, mas isso não significa que seja ruim
mostrar como faz isso, talvez porque atletas se livram de pelos faz tempo. No surfe, a justificativa é que eles grudam na parafina da prancha. Fisiculturistas se depilam para que os músculos fiquem mais desenhados e evidentes. Há pesquisas que mostram que na natação o corpo mais liso pode aumentar em 5% a velocidade de cada braçada. Num esporte em que milésimos fazem a diferença, eu rasparia até a sobrancelha.
E por falar em sobrancelha, o maior astro do futebol é o melhor exemplo de que hoje a decisão de muitos homens de raspar os pelos não tem a ver com desempenho, mas com vaidade. Não imagino que alguém precise fazer “virilha completa” para driblar o adversário. Cristiano Ronaldo desenha as sobrancelhas e depila pernas, peito e todo o parque de diversão ( virilha, escroto e ânus).
Dizem que David Beckham e Ganso também são adeptos do chamado “brazilian wax”, que deixa tudo lisinho, raspadinho. Neymar faz sobrancelha e raspa as pernas. Mas ainda que sejam formadores de opinião e lancem modismos, atletas são um reflexo do que acontece no mundo. Por isso, Medina aparece de gilete na mão mostrando como deixar o corpo sem um pelinho pra contar a história.
Eu sei que os homens são a maioria dos leitores deste caderno. Se você é tradicional e bate no peito — peludo, claro— para dizer que homem que é homem só usa desodorante, talvez não esteja preparado para saber disso, mas a moda já se espalhou por aí.
Há lugares especializados em depilação masculina. Ninguém precisa ser artista, atleta ou metrosssexual para enfrentar a lâmina de barbear ou a cera quente. Tem mais: muitas mulheres gostam. A preferência pilosa varia muito, mas em uma enquete poucas se levantaram para defender o homem em natura.
O coro mais alto foi o das que preferem peitos, axilas e virilhas aparados. Sinal de higiene, dizem. Outra já gostam de peitos depilados e lisinhos. Mas tem as que acham que o homem tem mesmo é que entrar para a turma do pelo- zero, e isso inclui a região genital.
“O futebol está diferente”, disse Mano Menezes, na época técnico da seleção braseira, quando soube que Ganso “depilava quase tudo”. Não é só o futebol, Mano, são os homens. Estão diferentes, mas isso não significa que seja ruim.