Folha de S.Paulo

SALÃO DE PARIS

Luiz Ruffato é ‘ figura de proa’ do Brasil, diz editor francês

- COLABORAÇíO PARA A FOLHA, DE PARIS LUCAS NEVES

Escritores que integram a delegação do Brasil no Salão do Livro de Paris, em que o país é homenagead­o, queixaram- se na sexta- feira ( 20) do não recebiment­o de cachê pela participaç­ão no evento.

Antes mesmo do embarque, Luiz Ruffato, que também está na França, reclamou à Folha da ausência de remuneraçã­o — falou em “escárnio com o papel do intelectua­l do Brasil” e disse sentir- se “como um cidadão de segunda categoria, um imbecil que vai trabalhar de graça”.

Os 43 autores que estão na comitiva receberam 50 euros ( R$ 174) por dia para despesas com alimentaçã­o e extras — a feira vai até segunda. Custos referentes a passagem, hospedagem e traslado são cobertos pelos organizado­res.

“A gente vem trabalhar, divulgar o Brasil”, afirma Paulo Lins (“Cidade de Deus”). “Qualquer delegação de médicos ou atletas é paga para participar de congressos.”

A vitrine de mídia que oferece um encontro desse porte não compensa? “Meus livros não vão vender muito mais pelo fato de eu ter vindo. As críticas que saírem aqui [ impulsiona­das por sua presença] podem ajudar, mas isso não é suficiente”, avalia.

Rodrigo Ciríaco (“Te Pego Lá Fora”) faz coro. “Não deveria nem se falar em cachê, mas em salário. É uma atividade profission­al, um exercício físico e intelectua­l. E não é um trabalho para mim. Estou trazendo a literatura da periferia de São Paulo, dos saraus, falando de uma cena.”

Já Marcelino Freire (“Nossos Ossos”) concorda que a diária oferecida é baixa, mas pondera que “há uma coisa maior, da divulgação brasileira fora” que não se deve desconside­rar. “Estando aqui, junto- me ao esforço da minha editora local [ para fazer seu trabalho ser conhecido].”

Autores também convidados para o tributo ao país na Feira de Frankfurt de 2013 dizem ter recebido entre 1.200 e 1.500 euros ( entre R$ 4.200 e R$ 5.200 hoje) naquela ocasião, a título de ajuda de custo, para participar de mesas e palestras durante períodos variáveis entre sete e dez dias.

O valor foi pago pelos organizado­res alemães, segundo a Câmara Brasileira do Livro. RUFFATO Convidado a falar na sexta, ao lado de Lins e Freire, sobre a representa­ção do espaço urbano na literatura brasileira, Ruffato disse que as obras do trio deveriam ser lidas como expressões de otimismo, apesar de não raro se debruçarem sobre a agonia de personagen­s marginaliz­ados.

“Nós três amamos muito o Brasil e somos otimistas, porque apontamos defeitos que precisam ser solucionad­os. Pessimista é quem acha que está tudo bem.”

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