MONICA LEWINSKY CONTRA O CIBERBULLYING
“Quem nunca cometeu um erro aos 22 anos?” A pergunta vem de Monica Lewinsky, que quebrou o silêncio para falar publicamente, nesta semana, no TED, que depois divulga as conferências que promove na internet. A repórter Fernanda Ezabella acompanhou o evento em Vancouver ( Canadá), frequentado por gente que paga até US$ 17 mil pelo ingresso.
Seu erro, ela explica, foi se apaixonar pelo chefe. “E também por usar aquela boina, admito”, disse a ex- estagiária da Casa Branca, num dramático discurso de 20 minutos, mas com espaço para algum humor. “Depois de ser arrastada para um improvável romance, fui arrastada para um turbilhão político, jurídico e midiático nunca antes visto. Foi um escândalo ampliado pela revolução digital.”
Na época, Lewinsky foi chamada de prostituta, vagabunda, bobinha, azeda, “aquela mulher”. Resolveu sair da sombra agora não por razões políticas — prejudicando uma possível candidatura à Presidência de Hillary Clinton em 2016—, mas, sim, pa- ra ajudar outras vítimas do ciberbullying.
“Eu fui a paciente zero. Perdi minha reputação pessoal numa escalada global quase instantânea”, disse Lewinsky, aplaudida de pé ao final pelo público do TED, que contou também com uma palestra de Bill Gates sobre ebola, além de outras apresentações de filósofos, executivos e artistas. “Era obrigada a tomar banho de porta aberta porque meus pais tinham medo que eu tentasse me matar. Eles achavam que eu ia morrer de humilhação.”
O escândalo de 1998, que envolveu charutos e um vestido azul manchado de sêmen, quase levou ao impeachment de Bill Clinton. Quando a poeira baixou, a exestagiária, cujo nome aparece em dezenas músicas de rap, se mandou para Londres para estudar psicologia social. Na volta aos EUA, nunca conseguiu um emprego, uma jornada descrita num artigo assinado por ela na “Vanity Fair” em 2014.
“Humilhação pública é um esporte sangrento que precisa parar”, disse. “Precisamos voltar aos valores de compaixão e empatia. Vivi dias negros na minha vida. E foi a compaixão de amigos, família, colegas e até mesmo estranhos que me salvou.” A organização britânica Childline registrou aumento de 87% nos telefonemas e emails reclamando de ciberbullying entre 2012 e 2013.
Lewinsky disse que virou ativista anticiberbullying ao ver a reação de sua mãe, totalmente arrasada e deprimida, com o caso do calouro americano Tyler Clementi, em 2010, que se suicidou ao ter imagens suas beijando outro homem publicadas na internet. “Foi como voltar ao tempo, a todas aquelas emoções [ de humilhação].”
E como combater o problema? “Com cada clique, fazemos uma escolha”, disse. Ela afirma que existe uma indústria em que a humilhação pública é vendida como uma mercadoria. “Quanto mais vergonha alheia, mais cliques. E, quanto mais cliques, mais dólares em publicidade. É um ciclo vicioso.”