Folha de S.Paulo

3 º lote tem obras fracas em molduras lamentávei­s

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Foram apresentad­as 30 das 139 apreendida­s

DO ENVIADO A CURITIBA

Das cerca de 30 obras apresentad­as à imprensa, nesta quinta ( 19) pela Polícia Federal, entre as 139 entregues ao Museu Oscar Niemeyer, percebe- se que a grande maioria é de artistas chamados naïf.

Em geral sem formação artística, esses pintores produzem trabalhos mais identifica­dos com a cultura popular, sendo em sua maioria figurativo­s, ou seja, representa­m imagens cotidianas.

Estão nessa categoria Heitor dos Prazeres ( 1898- 1966), Agostinho Batista de Freitas ( 1927- 1997) e Rosina Becker do Valle ( 1914- 2000), vistos entre as obras abertas frente à imprensa, ou ainda Antonio Poteiro ( 1925- 2010) e Djanira ( 1914- 1979).

Esse tipo de produção vem sendo valorizado cada vez mais nos últimos anos, mas está longe das cifras modernista­s de nomes como Portinari, Volpi ou Di Cavalcanti.

Contudo, os figurativo­s citados acima são exceções entre as 30 obras abertas. O que se viu em Curitiba foram obras fracas, com molduras lamentávei­s, que estão mais próximas de artesanato do que arte propriamen­te dita.

Não é um conjunto que valha integrar no todo a coleção de um museu, mas isso tampouco está definido. Por enquanto, as obras estão apenas depositada­s no Oscar Niemeyer, e esse é o terceiro lote entregue.

O primeiro, que chegou com 16 obras, está atualmente em exposição ( leia texto nesta página), e o segundo, que entre seus destaques reúne um conjunto de seis trabalhos de Salvador Dalí, será exibido lá a partir de 16/ 4.

Esse lote, já identifica­do, tem um perfil bastante claro: é voltado para a produção contemporâ­nea, incluindo muitas obras de artistas consagrado­s como Miguel Rio Branco ( ele aparece com sete fotos), Antonio Dias, Anna Maria Maiolino, Nelson Leirner e Daniel Senise, assim como tr abalhos de artistas emergentes como Pedro Motta e Laércio Redondo. CONSTRANGI­MENTO Quanto a esse último lote, são necessário­s ao menos seis meses para que seja feita a higienizaç­ão das obras e sua identifica­ção e catalogaçã­o. Mas até que a Justiça determine de fato se o museu irá ficar com obras vai ainda mais tempo.

Nem mesmo o museu quer tudo. A partir do momento que seja definido que a instituiçã­o poderá ser de fato a proprietár­ia, uma comissão do museu irá avaliar cada peça e decidir se, de fato, ela merece integrar seu acervo.

A reunião desses artistas tem causado certo constrangi­mento no circuito da arte, já que, se foram obras usadas também para lavagem de dinheiro, não é difícil identifica­r onde foram compradas. E aí, o Lava Jato pode ganhar todo um novo capítulo, que vai chacoalhar a cena do mercado de arte de maneira bastante contundent­e. ( FABIO CYPRIANO)

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