Folha de S.Paulo

Coletânea reafirma temas e relevância de Ricardo Lísias

- ADRIANO SCHWARTZ O escritor Ricardo Lísias, que lança reunião de contos

ESPECIAL PARA A

FOLHA

Pouquíssim­os romances tiveram nos últimos anos tanta repercussã­o no mundo acadêmico, na imprensa e nas redes sociais quanto “Divórcio” ( ed. Alfaguara), de Ricardo Lísias, de 2013. Em casos assim, é natural que exista a expectativ­a para o que vem depois, o que o autor fará no livro seguinte ( a série “Delegado Tobias” é um projeto de outra natureza).

Lançar uma reunião de contos, a maior parte deles escrita e publicada antes do volume “polêmico”, parece ser uma boa estratégia editorial para, ao mesmo tempo, contornar essa expectativ­a e reafirmar que, mais do que briguinhas no Facebook ou declaraçõe­s exageradas de quem quer que seja, inclusive do próprio autor, está em jogo aqui a construção de uma obra relevante e inteligent­e.

“Concentraç­ão e Outros Contos” traz 15 textos, escritos entre 2001 e 2014. Lidos em conjunto, eles reafirmam temas muito presentes na produção de Lísias: o xadrez, a loucura, as falhas da memória, as distorções entre o biográfico e o ficcional.

Ressurge também a repetição com variações como traço de estilo marcante, aqui em duplo sentido: essas cadeias de repetição acontecem dentro de cada conto, mas também no contraste entre eles, que, lidos em sequência, adquirem novos sentidos.

O humor corrosivo, entre o intenciona­lmente forçado e o destrutivo, também aparece em vários textos, como em “Autoficção”, conto mais recente do livro, em que o conceito bastante problemáti­co da teoria literária ganha uma “carnalidad­e” s ur - preendente e inesperada em sua particular versão de um relato jornalísti­co.

Em uma das “fisiologia­s” presentes no livro, a “Fisiologia do Medo”, o narrador diz a certa altura: “Sempre resta a impressão de que não vai ser possível dizer o que quero e, pior, também não vou conseguir expressar essa impossibil­idade”. Talvez não seja exagerado pensar que, se for esse um dos seus principais desafios, Lísias tem caprichado nas tentativas.

ADRIANO SCHWARTZ

é professor de literatura da Escola de Artes, Ciências e Humanidade­s ( EACH) da USP.

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Eduardo Knapp - 15. abr. 11/ Folhapress

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