CRÍTICA SHOW/ MPB Voz potente e límpida de Bethânia surpreende a novos e antigos fãs
Durante quase 2 horas de apresentação, cantora baiana mostra canções recentes e clássicos de seu repertório
EDITOR- ASSISTENTE DA “ILUSTRADA”
O show “Abraçar e Agradecer”, que Maria Bethânia mostra até domingo ( 22) em São Paulo, com ingressos esgotados, consegue surpreender antigos e novos fãs.
Quem acompanha a cantora há tempos pode ficar admirado com a voz de Bethânia. Aos 68 anos, ela preserva a potência e a limpidez no cantar, a mesma que impressionou a todo mundo quando substituiu Nara Leão no espetáculo “Opinião”, no Rio, em 1965.
Para quem vai conhecer pela primeira vez a performance da baiana ao vivo, a sedução pode vir, além da voz, do repertório impecável, da coerência da distribuição das 41 músicas e textos declamados, em blocos que transmitem escolhas recorrentes de sua carreira.
Canções caipiras, a louvação da Bahia, o encantamento com o mar, a descoberta do amor, a descoberta de que o amor é finito, a religiosidade.
Está tudo ali, num show em que Bethânia emenda uma música na outra, praticamente sem pausa, à exceção de uma saída para troca de roupa, caracterizando uma divisão da apresentação em dois atos.
A primeira dessas partes é mais retrospectiva, com canções de notórios favoritos, como Caetano, Chico Buarque, Roberto e Erasmo. Ganham completamente o público momentos como “Gita”, de Raul Seixas e Paulo Coelho, surpresa para os fãs, e a pequena catarse que vem com “Começaria Tudo Outra Vez”, de Gonzaguinha.
No segundo ato, Bethânia consegue uma reação ainda mais i ntensa do público mesmo trazendo várias canções novas, de gente como Roque Ferreira, Chico César e Leandro Fregonesi.
Próximo do final, ela canta duas envolventes criações recentes de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, “Alguma Voz” e “Viver na Fazenda”, que deveriam fincar pé no seu repertório.
Durante as quase duas horas de show, Bethânia canta sobre um piso que funciona como um telão. Do chão sobem feixes de luz que, combinados com as imagens do tapete eletrônico, criam um incrível impacto visual.
Ao encerrar com “Silêncio”, nova de Flávia Wenceslau, Bethânia tem o público extasiado. Diante de histéricos pedidos de bis, ela revela que não preparou nada, mas que existe uma canção que ela ama e quer cantar por toda a carreira.
A plateia canta junto “O Que É, o Que É”, de Gonzaguinha, a dos versos célebres “Eu fico com a pureza das respostas das crianças/ É a vida! É bonita e é bonita!”. Emoção bastante para encerrar um show fantástico.
DE SÃO PAULO
A cantora Zaz ( nome artístico da francesa Isabelle Geffroy, 34) fez sucesso com suas letras irreverentes e sua voz rouca embalada por uma mescla de pop e chanson francesa. Mas em seu terceiro álbum, “Paris” ( 2014), resolveu homenagear a capital francesa com releituras de clássicos que falam da cidade.
É com o novo trabalho que Zaz volta a se apresentar em São Paulo. No domingo ( 22), ela faz show gratuito na parte externa do Auditório Ibirapuera. Na sequência, sobem ao palco as brasileiras Tulipa Ruiz e Céu. Na terça ( 24) e na quarta ( 25), Zaz canta no Bourbon Street — com abertura do suíço Bastian Baker.
Em “Paris”, contudo, ela imprimiu às antigas composições uma roupagem própria. “Essas músicas atravessaram os anos e tiveram várias versões. Não quis simplesmente copiá- las”, diz à Folha, por e- mail. “Queria fazer como se fossem novos títulos, mas colocando minhas vontades.”
Assim, ela inclui sons de talheres na percussão de “Dans Mon Paris”, conhecida na voz de Maurice Chevalier, e também criou letras para o jazz instrumental de “Paris, l’Après- Midi”, do americano John Lewis.
O disco conta com duetos com cantores como Charles Aznavour e Tomas Dutronc e faixas com produção de Quincy Jones — responsável, entre outros, por “Thriller”, álbum de Michael Jackson.
Foi de um certo impulso