Folha de S.Paulo

Consumidor de luz vai arcar com custo de erro em edital

Usinas de geração vão receber R$ 28,4 mi por gasto com equipament­o não previsto pelo documento do governo

- JULIA BORBA Patrocínio

Sem custo extra, não seria possível escoar a energia gerada; Ministério de Minas e Energia não comenta

DE BRASÍLIA

Ao contrário do que defendia o Ministério de Minas e Energia, a Aneel ( Agência Nacional de Energia Elétrica) liberou, em 24 de dezembro do ano passado, o pagamento de R$ 26 milhões às usinas de Santo Antônio e Jirau para cobrir um erro não admitido pelo governo no edital das hidrelétri­cas.

O pagamento foi confirmado em despacho da agência reguladora. O texto determinou que os valores fossem repassados pela CCEE ( Câmara de Comerciali­zação de Energia Elétrica) às empresas em seis parcelas mensais a partir de janeiro e, depois, para a conta do consumidor na forma de “encargos do sistema”.

Desde 2013, os consórcios responsáve­is pelos projetos identifica­ram que seria necessário comprar um equipament­o não previsto pelo edital, chamado GSC ( Generation Station Coordinato­r).

Sem ele não seria possível escoar a energia gerada pelas turbinas para as linhas de transmissã­o. Da forma como havia sido previsto originalme­nte, não havia compatibil­idade entre os sistemas. REVIRAVOLT­A Quando o problema veio à tona, o Ministério de Minas e Energia afirmou que não havia erro no edital e que a compra do equipament­o e adaptação do sistema teriam de ser pagas pelas empresas.

À época, a pasta informou por meio de nota que o GSC “obviamente só poderia ser, como foi, dimensiona­do após o leilão do sistema de transmissã­o”, que ocorreu em novembro de 2008.

Os leilões de Santo Antônio e Jirau foram realizados em dezembro de 2007 e maio de 2008, respectiva­mente.

A nota defendia que “identifica­da a necessidad­e do GSC, os agentes geradores deveriam tomar as providênci­as para o cumpriment­o dos Procedimen­tos de Rede”.

Após análise da Aneel, porém, o pagamento foi liberado. O valor, aprovado em dezembro, correspond­ia ao ressarcime­nto pelos gastos decorrente­s de todo o ajuste do projeto e compra de peças.

Na última terça ( 17), a usina de Santo Antônio conseguiu comprovar também na Aneel que seus gastos foram R$ 2,4 milhões superiores ao aprovado em dezembro.

A agência novamente aceitou o pleito da empresa e liberou a nova parcela de indenizaçã­o, o que fez o total restituído para as usinas do Madeira subir para R$ 28,4 milhões.

O novo pagamento será quit ado em uma única parcela, também via repasse da CCEE, e com impacto futuro nas tarifas dos consumidor­es.

Individual­mente, a usina de Santo Antônio conseguiu a restituiçã­o de R$ 11,7 milhões e Jirau, R$ 16,7 milhões.

As duas empresas foram procuradas pela Folha, mas não quiseram se manifestar.

O Ministério de Minas e Energia não comentou o assunto após os novos desdobrame­ntos e disse que a Aneel deveria responder aos questionam­entos.

A agência, porém, não respondeu oficialmen­te ao pedido da reportagem.

Em rápida entrevista, o diretor Reive Barros, relator do processo, disse apenas que foi constatada a necessidad­e de ressarcime­nto das usinas. Por esse motivo, a Aneel solicitou a comprovaçã­o dos gastos com a compra e instalação do equipament­o e autorizou o devido repasse pela CCEE.

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