Folha de S.Paulo

Os desafios do FRANGO

Brasil se manterá líder em exportação na próxima década, mas ainda terá de fazer o dever de casa

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O Brasil assumiu a liderança mundial na exportação de carne de frango em 2005 e não deverá perdê- la. É o que indicam projeções do Usda ( Departamen­to de Agricultur­a dos Estados Unidos).

Qualidade, custos menores e, principalm­ente, a ausência de doenças são alguns dos propulsore­s dessa cadeia.

Apesar dessa ilha blindada que o país se tornou, a preocupaçã­o com problemas sanitários graves, como o da gripe aviária, é constante.

Hoje o setor tem um fundo com recursos privados voltado para a defesa sanitária e orientaçõe­s para produtores quanto às medidas de segurança na própria granja.

Mesmo com avanços, o presidente- executivo da ABPA ( Associação Brasileira de Proteínas Animal), Francisco Turra, diz que “a preocupaçã­o hoje é muito grande com a defesa sanitária, principalm­ente porque, apesar dos cuidados atuais, ainda há muito coisa a ser feita”.

Pelo menos 94% da avicultura brasileira é profission­al. E a ameaça maior vem dos outros 6% dos produtores, às vezes um pouco descuidado­s.

O presidente da ABPA diz que a posição do Usda, de que o país vai continuar sendo líder no setor, é realista.

Na avaliação do órgão norte- americano, os brasileiro­s vão exportar 5 milhões de toneladas em 2024, com alta de 34% ante 2014. As exportaçõe­s do Brasil superam em apenas 1% as dos Estados Unidos, o segundo maior exportador mundial. Em 2024, esse aumento será de 16%.

Entre os desafios para os produtores brasileiro­s estão os custos, até então um ponto imbatível para o Brasil. Em 2002, o custo do quilo de frango, do início da produção à colocação nos mercados consumidor­es, era de US$ 0,40. Nos EUA, atingia US$ 1,10.

Em 2014, esse custo subiu para US$ 1,10 no Brasil, e foi a US$ 1,20 nos EUA. LIÇÃO DE CASA Para continuar na dianteira mundial das exportaçõe­s de carne de frango, o Brasil tem muita lição de casa para ser feita, aponta Turra.

Parte delas vem dos produtores, que têm de manter o status sanitário conseguido pelo país a qualquer custo. A sanidade é a garantia da qualidade da carne e da presen- ça dela no exterior, aponta.

Outra parte importante cabe ao governo. Além de cuidar da defesa sanitária, terá de deixar de ser uma ilha, fazendo acordos comerciais.

O México, cita Turra, recorreu ao Brasil devido a problemas no seu principal fornecedor, os EUA. Caso contrário, o país teria de pagar altas taxas para exportar o produto aos mexicanos, devido à ausência de acordos comerciais.

E o Brasil terá de ficar de olho no mercado mexicano, um dos que mais vão crescer na próxima década. Com produção de 3,1 milhões de toneladas, os mexicanos consomem 3,9 milhões. Em 2024, importarão 1,4 milhão, 62% mais do que atualmente.

O mercado do México, com consumo crescente, será interessan­te para o Brasil porque, apesar da boa produção de milho, o país tem dificuldad­es na oferta de outros insumos, afirma Turra.

O Brasil deverá ficar de olho também na África, cujas importaçõe­s crescerão na próxima década. A importação de carne de frango da África Subsaarian­a, por exemplo, saltará para 1,5 milhão de toneladas em 2024, 45% mais do que hoje.

O aumento da participaç­ão brasileira nas importaçõe­s africanas de carne de frango “vai exigir uma ação forte do governo. Boa parte desses países são protecioni­stas”, diz o presidente da ABPA.

Um dos aliados do Brasil são os próprios importador­es, “que querem preço e qualidade”, diz Turra. Foi assim nas negociaçõe­s com África do Sul, Rússia, Ucrânia e Indonésia. “Sempre estiveram do nosso lado”, diz ele.

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