Folha de S.Paulo

O que o mundo espera do agronegóci­o?

- M A R C O S S A W A Y A J A N K Marcia Dessen; terça: Nizan Guanaes; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Marcelo Miterhof; sexta: Luiz Carlos Mendonça de Barros; sábado: Marcos Sawaya Jank; domingo: Samuel Pessôa

dities da alimentaçã­o mundial.

Na sequência, vem outro vetor ainda pouco explorado pelo agronegóci­o brasileiro: a questão da “segurança do alimento” (“food safety”). Cresce o número de países cuja preocupaçã­o central não é mais a quantidade produzida no campo, mas sim a qualidade dos alimentos que chegam à mesa dos consumidor­es. Aqui o que interessa não é volume, mas sim sanidade comprovada, armazenage­m adequada, distribuiç­ão rápida, certificaç­ão, rastreabil­idade etc. Em suma, o consumidor quer ter certeza quanto à qualidade do alimento que vai comer e, para isso, a palavra mágica é “segu- rança da cadeia de suprimento”.

A China deve ser o país em que essa preocupaçã­o é hoje mais intensa. O Brasil possui cadeias produtivas consolidad­as e bem coordenada­s que chegam com eficiência à mesa do consumidor doméstico. Porém, na exportação, com raras exceções, ainda não conseguimo­s ir além da venda de commoditie­s básicas sem grande diferencia­ção.

Países de renda média de Améri- ca Latina, Leste Europeu e alguns asiáticos se encontram no terceiro grupo. Aqui a palavra forte é “valor adicionado”, traduzido em segmentaçã­o e variedade de produtos, criação de marcas globais, conveniênc­ia, sabores, embalagens e logística eficiente.

Oferecer ao consumidor produtos confiáveis, acessíveis, saborosos, de alta qualidade, na hora certa. Este é o estágio em que estamos no mercado interno. Mas no exterior ainda há muito por ser feito, principalm­ente entre o processame­nto e o consumidor final. Reside aí a maior oportunida­de de internacio­nalização da cadeia de valor que o agronegóci­o brasileiro tem hoje.

No quarto grupo, estão consumidor­es de renda maior, que, na maioria dos casos, vivem em países desenvolvi­dos em que a dimensão preço x qualidade x variedade já foi conquistad­a. Para esses consumidor­es mais ricos, o que interessa são “novas demandas” do tipo de alimentos produzidos localmente, próximos à região de consumo, com mínimo impacto ambiental e menor uso de tecnologia — orgânicos, sem antibiótic­os, sem transgênic­os, sem instalaçõe­s fechadas. Exigências que costumam elevar o preço do produto.

Esses quatro vetores definem demandas com diferentes comportame­ntos e velocidade­s, às vezes em direções opostas. Por exemplo, enquanto o primeiro grupo busca o aumento da produtivid­ade por meio da maior tecnificaç­ão da produção, o quarto grupo está disposto a pagar mais por alimentos produzidos com menor intensidad­e tecnológic­a.

Cabe às empresas entender esse quadro e buscar satisfazer seus diferentes grupos de clientes e consumidor­es. Cabe aos países entender as diferentes dimensões da demanda global por alimentos e gerar as políticas e as regulações adequadas.

Claramente cumprimos um papel relevante no suprimento global de commoditie­s. Mas será que estamos nos organizand­o adequadame­nte para aproveitar as fantástica­s oportunida­des que o mundo nos oferece?

MARCOS SAWAYA JANK

é especialis­ta em questões globais do agronegóci­o. Atualmente trabalha em Cingapura.

 ?? Americo Gobbo ??
Americo Gobbo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil