Folha de S.Paulo

Estou mais seguro com os meus conhecimen­tos

TÉCNICO DO CORINTHIAN­S APONTA FALHA NO PREPARO DE TREINADORE­S BRASILEIRO­S E CONTA O QUE APRENDEU NO REAL MADRID EM 2014

- MARCEL RIZZO DE SÃO PAULO

O ano sabático fez de Tite, 53, definitiva­mente um técnico melhor. A opinião é do próprio corintiano.

O 2014 foi de estudos, que ele coloca em prática agora e tem dado ótimos resultados.

Os números do Corinthian­s em 2015 impression­am: 14 jogos, 11 vitórias e nenhuma derrota. Aproveitam­ento de 86% dos pontos.

Bem superior aos 60% da primeira passagem pelo clube ( 2004 e 2005), e dos 59% do segundo período ( 2010 e 2013), quando ganhou a Libertador­es e o Mundial.

“Estou mais seguro dos meus conhecimen­tos e muito mais preparado. Isso que fui buscar: evolução”, afirmou à Folha nesta sexta ( 20), no centro de treinament­o do Corinthian­s, na zona leste de São Paulo.

Para ele, treinadore­s, dirigentes e todos os envolvidos no futebol precisam seguir o o seu caminho e estudar.

“Não concebo um dirigente que vejo falando que ‘ o importante é ganhar’. Isso é elementar, uma criança de dois anos sabe disso. A questão é que o profission­al esteja interessad­o no processo que será feito para ganhar. É preciso qualificaç­ão para isso”.

Confiante de que Guerrero vai permanecer no clube ( o contrato dele vence em julho), Tite tem trabalhado com o fantasma do atraso do pagamento de salários do elenco — não confirma, mas também não nega, que parte de seus vencimento­s estejam atrasados.

“Quando há confiança e lealdade na direção, há a compreensã­o”, disse.

O novo Tite Tite leu e assistiu a vídeos, mas o trabalho de campo foi o principal aprendizad­o para compor a nova filosofia de jogo, com base no elenco que tem em mãos, que se define em quatro jogadores no meio de campo participan­do das jogadas ofensivas, com dois deles abertos nas laterais — Jadson e Sheik, atualmente.

“O que trouxe de aprendizad­o foram treinament­os mais específico­s de infiltraçã­o no ataque, criação de jogadas ofensivas para alargar o campo [ deixar os atletas mais espalhados] e treinament­o de bola parada ofensiva”, disse.

Ancelotti Tite visitou o Boca Juniors e esteve nas instalaçõe­s do Arsenal. Mas foi no Real Madrid, com Carlo Ancelotti, que teve a maior abertura. Foram cinco dias, um almoço, um jantar e detalhes do trabalho que surpreende­ram Tite.

“O que levo dele é exigir intensidad­e e concentraç­ão alta dos atletas o tempo todo. Ele abriu seu sistema de trabalho de uma forma que, admito, eu não faria com outro profission­al.”

TITE Sobre insucesso de técnico brasileiro na Europa

Remoí isso uma semana... Talvez dez dias. Mas tenho uma atenção especial comigo mesmo. Meu objetivo era crescer na minha área

Sobre não assumir a seleção brasileira

O efeito 7 a 1 “Concordo com o Abel [ Braga, treinador] quando ele diz que após o7 a 1, se cair um pingo d’água aqui a culpa é do treinador. Mas culpar um profission­al por isso... Não. Ali perdeu uma estrutura toda”, disse o treinador sobre a goleada sofrida pela seleção brasileira, 7 a 1, na semifinal da Copa- 2014 para a Alemanha.

Indiretame­nte, defendeu Felipão e criticou a direção da CBF em um aspecto que foi destaque no fracasso na Copa: a falta de privacidad­e no CT da CBF, em Teresópoli­s.

“Há espaço para todas as áreas do futebol ter evolução. Na parte técnica, vejo ex- jogadores querendo ser técnico, vejo jovens se formando querendo ser técnicos, mas é pre- ciso qualificá- los. Por que não fazer o curso de técnico da Fifa?”, perguntou.

Relação com Sheik Sheik foi emprestado ao Botafogo em 2014. Tite reassumiu em 2015, o atacante voltou, permaneceu e tem jogado.

Há algumas semanas, um atraso a treino confirmado pela diretoria do jogador fez o polêmico jogador voltar à mídia, não pelo futebol, mas pelo extracampo. Como motivá- lo?

“Sendo sincero e falando pela frente. Se atrasou, atrasou, se não atrasou, não atrasou, mas aprendi a tratar esses casos falando diretament­e ao jogador e ao grupo”, disse.

Guerrero fica? O pressentim­ento de Tite é de que sim, mas ele admite que é uma negociação complicada. O peruano quer cerca de R$ 18 milhões de luvas para renovar o acordo que acaba em 15 de julho, e o Corinthian­s diz não poder pagar.

“Ele é identifica­do com o clube, e o clube com ele. Mas não interfiro nessa parte financeira. As pessoas podem me criticar do que quiserem, mas não podem abrir a boca para falar que pedi para dar um centavo a mais para quem quer que seja”, disse.

Salários atrasados Para ele, em caso de atraso de salário, a tensão cresce se não existe confiança entre os empregados e a diretoria.

“Entre o Roberto [ de Andrade, presidente] e o grupo há confiança e lealdade”.

Mas o seu salário também está atrasado? “A mesma resposta anterior”, disse.

A Fifa coloca a comunicaçã­o como um atributo de excelência para um grande técnico. Não tenho inglês fluente e não ambiciono. Como você vai se comunicar com o atleta? Por isso que o único trabalho de sucesso na Europa de um técnico brasileiro foi Portugal [ Felipão na seleção local]

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