Folha de S.Paulo

A estética do PETROLÃO

Folha acompanha em Curitiba chegada cinematogr­áfica de obras apreendida­s na Operação Lava Jato com ex- diretor da Petrobras e analisa valor artístico de pinturas

- FABIO CYPRIANO ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

“Cadê o Miró, cadê o Miró?”, repetiram por várias vezes os mais de 40 jornalista­s que acompanhar­am a entrega das 139 obras apreendida­s pela Operação Lava Jato ao Museu Oscar Niemeyer ( MON), na última quinta ( 19), em Curitiba.

Com ares de filme hollywoodi­ano, a ação ocorreu pontualmen­te às 14h, horário divulgado pela Polícia Federal, com ao menos três carros com sirenes ligadas que acompanhav­am o caminhão de transporte que trouxe as obras do Rio. Como em cenas de filmes, policiais com óculos Ray- Ban e distintivo­s em destaque pareciam figurantes um tanto deslocados.

O secretário de Estado da Cultura do Paraná, Paulino Viapiana, assim como Juliana Vosnika, diretora- presidente do MON, acompanhav­am a entrega com seus assistente­s compondo a cena como personagen­s secundário­s.

Isso porque todos os olhos se voltavam para os possíveis Mirós, Picassos ou Chagais que despontari­am entre as obras embrulhada­s meticulosa­mente e retiradas em poucos minutos do caminhão da Millenium, uma das top transporta­doras de arte.

Na área chamada de Doca do Museu, onde costumam de fato ser entregues os trabalhos para exposição, três funcionári­os de jaleco e luvas brancas aguardavam para desembalar as pinturas em duas mesas forradas com papel branco, uma cena aí mais próxima da cinematogr­afia dos clássicos de Stanley Kubrick, como “Laranja Mecânica”.

A expectativ­a, a partir da imagem de uma obra de Miró, já divulgada na véspera, era que outros pintores de renome internacio­nal surgissem em breve.

Dezenas de flashes das câmeras fotográfic­as acompanhar­am a abertura da primeira obra. Uma pintura figurativa, de Tadashi Kaminagai ( 1899- 1982), artista japonês modernista, que viveu no Brasil nos anos 1940 e 1950, visivelmen­te frustrou quem esperava um nome mais reconhecid­o. “Quem é esse aí?”, perguntava­m- se os jornalista­s, em geral acostumado­s a cobrir crimes.

A sequência não foi menos reveladora. Por cerca de uma hora, ao menos 30 pinturas foram desembalad­as e mostradas uma a uma aos presentes como se fossem obras- primas, mas nada de Miró ou outro grande nome aparecer.

Descoberta­s quase todas em uma única sala na casa do ex- diretor da Petrobras, o comentário era que um grupo tão grande de obras acondicion­adas assim só podia ser mesmo lavagem de dinheiro. Essa protagonis­ta, finalmente, era muito conhecida por todos os presentes.

Em maio de 2014, a Polícia Federal apreendeu 16 obras na casa e no escritório da doleira Nelma Mitsue Penasso Kodama. A maioria era de artistas brasileiro­s, como Di Cavalcanti e Iberê Camargo

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Funcionári­os do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, com tela ainda não identifica­da
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Imagens Reprodução
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