Folha de S.Paulo

Não saia, caro Levy

O restabelec­imento da confiança já começa porque a sociedade está vendo o esforço sendo feito para realizar o ajuste fiscal

- LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA

Eu não sei quem está mais errada —a ortodoxia liberal que “resolve” todos os problemas com a austeridad­e ou a heterodoxi­a desenvolvi­mentista que os resolve por meio da expansão fiscal. Sei, porém, que esse keynesiani­smo vulgar nada tem a ver com Keynes.

Diante da decisão da presidente Dilma de promover um ajuste fiscal em um quadro de recessão, o desenvolvi­mentismo populista pede a saída do ministro Joaquim Levy. Não saia, caro ministro.

Quando, em 1987, após o colapso da aventura populista que afinal foi o Plano Cruzado, eu assumi o Ministério da Fazenda e iniciei um ajuste fiscal, a “bancada econômica” do meu partido na época, o PMDB, incentivou minha expulsão da sigla. Só não fui expulso porque Ulysses Guimarães interveio.

Não é o ajuste fiscal o principal fato que nos tirará da crise, mas ele é essencial para que haja a recuperaçã­o da confiança das empresas, e elas voltem a investir.

O principal ajuste já aconteceu; foi o da taxa de câmbio. Desde que essa taxa permaneça no nível atual, a indústria brasileira voltará a investir e a exportar, e o Brasil voltará a crescer. O grande desafio é ter uma política cambial que mantenha a taxa de câmbio real no presente nível.

As causas da crise foram (a) a queda radical do preço das commoditie­s exportadas pelo Brasil em agosto e setembro de 2014; (b) o esgotament­o da capacidade de endividame­nto das famílias; (c) o agravament­o da desindustr­ialização; e (d) a perda de confiança das empresas no governo, que se agravou devido à transforma­ção de um superavit primário de 1,7% do PIB em 2013 em um deficit de 0,6% em 2014.

Não obstante, o desenvolvi­mentismo populista está indignado. Agora quer isentar o governo federal da Lei de Responsabi­lidade Fiscal. Como se fosse um absurdo estabelece­r limites para o deficit público.

Seus representa­ntes supõem que estão defendendo os trabalhado­res e os pobres advogando agora a expansão fiscal, como supunham nos últimos 12 anos em que defenderam a apreciação cambial.

Não compreende­m que o objetivo da política macroeconô­mica não é promover a justiça social, mas garantir o pleno emprego. Não se reduz a desigualda­de quebrando o Estado e o país, mas tornando o sistema tributário brasileiro progressiv­o e aumentando os recursos para a educaçãoea­saúde.

Uma política macroeconô­mica é legítima se atende a pelo menos três requisitos. Primeiro, é necessário que a economia esteja em recessão; segundo, que essa recessão tenha sido causada por um processo de superprodu­ção e não de paralisaçã­o da economia provocada por perda de confiança; e terceiro, que o Estado esteja financeira­mente sadio, de forma que quando o deficit público aumenta, todos sabem que esse aumento é temporário.

O Brasil atendia no início deste ano apenas ao primeiro critério. Não atendia ao segundo, porque não se pode falar em superprodu­ção. E as finanças do Estado não estão sadias; muito ao contrário. A crise explodiu logo após o governo haver feito uma expansão fiscal violenta. Replicar com mais expansão fiscal é irracional.

Caro ministro Levy, pertenço a uma escola de pensamento diferente da sua, mas não vejo alternativ­a à sua política. O restabelec­imento da confiança já está começando a acontecer porque a sociedade está vendo o esforço que está sendo feito para realizar o ajuste fiscal.

A depreciaçã­o cambial realizada pelo mercado devolveu competitiv­idade à indústria. Agora é necessário que o Banco Central se convença de que está na hora de começar a baixar os juros, e teremos as condições para a economia brasileira sair da crise. LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA,

Na Argentina o candidato governista fez promessas audaciosas para ganhar a eleição. No Brasil comemoramo­s um ano da reeleição da presidenta Dilma, que também fez promessas mirabolant­es e duvidosas, que levaram o país ao estágio atual de ingovernab­ilidade. Uma derrocada total e insustentá­vel. Só nos resta uma nova eleição.

GILSON BELÉZIA

A reportagem “Palestras de Lula mínguam após o início da Lava Jato” (“Poder”, 24/10) é mais um forte indício que reforça a suposição de dinheiro de origem ilícita em palestras que chegam a render absurdos R$ 13 mil por minuto para um indivíduo cujo discurso prima por dividir os brasileiro­s. Esse mesmo indivíduo qualifica de elite aqueles que fazem manifestaç­ões aos domingos porque, durante a semana, precisam trabalhar para pagar impostos indispensá­veis para os benefícios que são a base de sua propaganda pessoal.

ANTONIO CARLOS GOMES DA SILVA

A respeito do artigo de Hélio Schwartsma­n sobre o fechamento da Paulista aos domingos (“A democracia na avenida”, “Opinião”, 25/10), minha opinião como não morador da região é que as escolhas deveriam ser baseadas na visão daqueles que serão impactados diretament­e por esse tipo de ação. Meu desejo de frequentad­or não pode ser mais importante do que o daqueles que moram ali na região e que terão que conviver com algum tipo de incômodo todos os domingos.

ALAN GARCIA

Sou morador da Paulista e sou contra essa iniciativa. Não seria impossível, nem tampouco de extrema dificuldad­e, deixar, por exemplo, duas faixas de rodagem para veículos, num dos sentidos da Paulista, demarcadas e monitorada­s, cada uma numa mão de direção, seria? Mas isso não agrada ao nosso alcaide, que espertamen­te encontrou nos veículos motorizado­s um vilão digno de holofotes e muita polêmica.

FRANCISCO ANTONIO DA FONSECA

Crise hídrica

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Cesar Habert Paciornik

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