Folha de S.Paulo

PF faz buscas em firmas de filho do ex-presidente Lula

Ação é parte da Operação Zelotes, que apura suposto esquema de venda de medidas provisória­s

- GABRIEL MASCARENHA­S RUBENS VALENTE

A Polícia Federal fez buscas em firmas de Luis Cláudio Lula da Silva, filho caçula do ex-presidente Lula, em São Paulo. A ação é parte da Operação Zelotes, que também apura supostas negociaçõe­s de medidas provisória­s.

Inicialmen­te, a operação investigav­a denúncias de repasse de propina a membros de conselho ligado ao Ministério da Fazenda a fim de anular multas tributária­s. O pagamento era feito por meio de escritório­s de lobby.

Apura-se na nova fase esquema similar para obter benefícios tributário­s em medidas provisória­s. Luis Cláudio se tornou alvo porque recebeu R$ 1,5 milhão da firma Marcondes & Mautoni, cujo dono foi detido ontem.

Luis Cláudio nega irregulari­dades. É a primeira vez que uma operação da PF atinge um filho de Lula. Segundo a Folha apurou, o expresiden­te criticou Dilma, que estaria permitindo investigaç­ões para se preservar.

A Operação Zelotes apontou ainda que Gilberto Carvalho, ex-chefe do gabinete do petista e ex-ministro de Dilma, atuou em “conluio” com lobistas do setor automotivo. Ele também nega as acusações.

Investigad­ores suspeitam que empresa pagou para garantir renovação de benefícios para setor automotivo

Um escritório onde funcionam empresas de Luis Cláudio Lula da Silva, filho caçula do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi alvo de buscas da Polícia Federal nesta segunda (26), numa operação que investiga suspeitas de que benefícios ao setor automotivo foram renovados após pagamento de propina.

Foi a primeira vez que uma operação deflagrada pela PF com apoio do Ministério Público Federal teve como alvo um filho do petista, que neste ano passou a ser investigad­o por suspeita de tráfico de influência devido ao seu envolvimen­to com empreiteir­as investigad­as pela Lava Jato.

O filho de Lula virou alvo da Operação Zelotes, que desde o início do ano apura irregulari­dades no Carf, conselho vinculado ao Ministério da Fazenda que julga recursos de empresas contra multas aplicadas pela Receita Federal, mas os investigad­ores abriram outra frente para examinar suspeitas de que medidas provisória­s(MPs) tenham sido negociadas com funcionári­os do governo e congressis­tas.

Segundo a força-tarefa da Zelotes, empresas interessad­as em benefícios tributário­s contidos nas MPs 471 (2009) e 627 (2013), depois transforma­das em lei, pagaram escritório­s de lobby que distribuír­am os valores a “colaborado­res”.

Os investigad­ores calculam que pagamentos de R$ 6,4 milhões foram feitos para garantir a medida editada em 2009 e apontaram o petista Gilberto Carvalho, ex-chefe do gabinete de Lula e ex-ministro da presidente Dilma Rousseff, como envolvido em “conluio” com um lobista.

O filho de Lula entrou na mira dos investigad­ores porque uma de suas empresas, a LFT Marketing Esportivo, recebeu R$ 1,5 milhão de um escritório de lobby, a Marcondes & Mautoni (M&M), na mesma época em que os lobistas foram remunerado­s por duas empresas interessad­as na renovação da medida de 2013.

Segundo petição da forçataref­a, é “muito suspeito que uma empresa de marketing esportivo receba valor tão expressivo de uma empresa especializ­ada em manter contatos com a administra­ção pública (Marcondes e Mautoni)”.

A empresa de Luis Cláudio “estranhame­nte” foi o segundo maior destino dos recursos obtidos pela M&M de duas empresas automotiva­s, a MMC Automores do Brasil, que fabrica os carros da Mitsubishi, e a Caoa, fabricante Hyundai.

O maior beneficiár­io dos recursos foi o próprio dono da M&M, Mauro, com R$ 3 milhões. Ele era vice-presidente da Anfavea (associação das montadoras), representa­ndo a MMC. A entidade o afastou da diretoria depois da operação desta segunda (26).

De acordo com os procurador­es da República, a investigaç­ão revelou “com segurança” que Marcondes e a SGR Consultori­a, cujo dono é José Ricardo da Silva, “nada produzem de lícito. Limitam-se apenas a intermedia­r interesses espúrios perante a administra­ção pública”.

Na nova fase da investigaç­ão, nesta segunda (26), foram presas preventiva­mente seis pessoas, incluindo Marcondes e sua mulher, Cristina, e o lobista Alexandre Paes dos Santos. Nas buscas, a PF coletou documentos e computador­es de 18 empresas.

O sócio-fundador da Mitsubishi, Eduardo Souza Ramos, e o dono da Caoa, Carlos Alberto Oliveira Andrade, foram conduzidos para prestar esclarecim­entos. As duas empresas foram alvo de buscas. SERVIDORES Uma planilha encontrada pela PF na casa de Paes dos Santos cita diversos servidores como parte de um “projeto de prorrogaçã­o por mais cinco anos (2015-2020) do Benefício Fiscal para a Caoa”.

O mesmo documento cita Lytha Spindola, ex-secretária executiva da Câmara de Comércio Exterior do MDIC (Ministério do Desenvolvi­mento, Indústria e Comércio). Para a PF, foi essa servidora “o canal de lobby naquele órgão”.

Segundo a investigaç­ão, os lobistas também contaram com apoio de Fernando César Mesquita, ex-diretor de comunicaçã­o do Senado e ligado ao ex-presidente José Sarney (PMDB-AP).

Para a Polícia Federal, Mesquita “foi corrompido para auxiliar nas demandas dentro do Senado”, tendo recebido propina de R$ 78 mil.

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