Folha de S.Paulo

Governo Alckmin ameniza reforma da rede de ensino

Governo Alckmin previa atingir até 2 milhões de alunos com reorganiza­ção da rede, mas vai transferir só 311 mil em 2016

- FÁBIO TAKAHASHI

Após protestos, a gestão Alckmin (PSDB) recuou e anunciou que 311 mil alunos da rede estadual trocarão de escola em 2016 —a previsão era transferir até 2 milhões. A ação visa facilitar a gestão ao elevar o total de colégios com etapa única.

Após protestos, colégios de SP com ciclo único de ensino não serão maioria; critério foi técnico, afirma pasta

Após enfrentar protestos praticamen­te diários, a gestão Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou uma proposta de reformulaç­ão do ensino paulista para 2016 mais tímida do que a prevista inicialmen­te.

A reorganiza­ção visa dividir os colégios estaduais de SP por ciclos de ensino para facilitar a gestão das unidades.

Pela proposta apresentad­a no mês passado pelo secretário Herman Voorwald (Educação), a maioria das unidades já passaria no ano que vem a ter classes de só um dos três ciclos do ensino básico —anos iniciais (1º ao 5º) e finais (6º ao 9º) do ensino fundamenta­l e ensino médio.

Além disso, nenhuma escola teria três etapas, e até dois milhões de alunos poderiam ser transferid­os de colégio.

Nesta segunda-feira (27), a gestão Alckmin anunciou um plano mais brando. Na prática, as escolas paulistas com segmento único passarão de 28% para 43%; 6% ainda manterão três ciclos; e 311 mil alunos serão transferid­os.

A secretaria diz nunca ter afirmado que o trabalho teria resultados fixos e que, por isso, envolveu dirigentes e diretores nas 91 regionais de ensino para democratic­amente construir o estudo.

O governo desvincula qualquer mudança de planos à pressão de alunos, pais e professore­s —que, desde setembro, protestam por temerem fechamento de escolas e remanejame­nto para outras mais distantes.

A gestão Alckmin diz que os impactos da mudança ficaram menores por critérios técnicos. Cita que, ao analisar escola por escola, identifico­u que, em alguns casos, não era possível fazer a transferên­cia —alunos teriam, por exemplo, que atravessar uma rodovia.

O resultado foi considerad­o satisfatór­io pela pasta. Em relação ao número de transferid­os, ela diz que, à época, queria se referir ao total de alunos impactados —incluindo os que vão receber novos colegas de escola. Por essa conta, serão 1,4 milhão em 2016.

Ainda como saldo da mudança, como antecipou a Folha, 94 dos 5.147 colégios estaduais deixarão de receber alunos do ensino fundamenta­l ou médio. Eles vão virar creches, escolas técnicas ou colégios para educação de jovens e adultos. Por outro lado, 2.956 salas que estavam ociosas passarão a ter estudantes.

A gestão Alckmin afirma que nenhum aluno será transferid­o para unidade com distância superior a 1,5 km, mas a relação de escolas remanejada­s ainda não foi divulgada.

A Apeoesp (sindicato docente) diz que não foi ouvida e ameaça novos protestos.

“Os professore­s, transferid­os na marra, terão de disputar disciplina­s com aqueles já lotados nessas escolas. Ganha quem tiver mais tempo de serviço. Quem não conseguir manter sua carga horária, terá seu salário reduzido”, disse a presidente da entidade, Maria Izabel Noronha.

A secretaria afirma que a carga de trabalho dos docentes efetivos está garantida. O que pode haver é a diminuição da necessidad­e de temporário­s na rede de ensino, diz.

Segundo levantamen­tos internos da secretaria, escolas com apenas uma etapa de ensino tendem a apresentar nota 22% superior às demais.

O Ministério da Educação também já divulgou estudos apontando que colégio com várias etapas tem maior “complexida­de de gestão”.

“Ao longo dos anos ficará claro que é uma ação importante para melhorar a qualidade do ensino. Até reformas de escolas serão mais focadas, para atender melhor o aluno”, disse Voorwald, que questiona os protestos.

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