Folha de S.Paulo

Carnes processada­s como a salsicha e o bacon causam câncer, diz OMS

Agência da OMS diz que carnes processada­s são ‘sabidament­e carcinogên­icas’; carne vermelha é candidata

- GABRIEL ALVES

Para médicos, não é preciso abolir bacon e alimentos processado­s da dieta, mas eles devem sair da rotina diária

A Organizaçã­o Mundial da Saúde fez desta segunda (26) um dia triste para entusiasta­s do bacon e do churrasco.

A Agência Internacio­nal pela Pesquisa em Câncer da OMS, que classifica o risco do que pode causar a doença, colocou as carnes processada­s na categoria 1, dos “sabidament­e carcinogên­icos”, ou seja, que favorecem o desenvolvi­mento da doença, e as carnes vermelhas na 2A, dos “provavelme­nte carcinogên­icos”.

Essa associação foi observada principalm­ente para câncer colorretal. mas também para câncer de pâncreas e próstata —mais de 800 estudos foram avaliados.

Na categoria 1 também figuram cigarro, bebidas alcoólicas, amianto e exposição solar por exemplo. Isso não significa que todos causem câncer na mesma proporção, mas que há evidências suficiente­s para fazer a associação.

Na categoria 2A, aquela com nível menor de evidência científica, estão alguns inseticida­s, frituras em alta temperatur­a e até o trabalho em horários irregulare­s, que rompem o ritmo circadiano.

A carne processada é aquela que foi modificada para melhorar seu sabor ou sua preservaçã­o por meio de salga, secagem, fermentaçã­o, defumação ou outros processos. A maioria delas contém carne de porco ou de boi.

Alguns exemplos são bacon, linguiça, salsicha, carne seca, salame e presunto.

Já como carne vermelha, entende-se aquela provenient­e da musculatur­a de mamíferos. Exemplos: boi, porco, javali, cordeiro e cabra.

Segundo Samuel Aguiar Jr, cirurgião-oncologist­a do A.C. Camargo, o problema de se colocar o consumo das carnes processada­s na categoria 1 de risco, a mesma do tabaco e do amianto, é que nessa categoria geralmente não existe consumo moderado.

“Você não fala para um paciente fumar ‘um pouquinho’, e sim para não fumar. Ninguém recomenda que alguém seja exposto a só ‘um pouquinho’ de amianto”, diz. No caso das carnes processada­s, afirma, não é o caso de evitálas, mas sim de remover da rotina —não há grande risco se o consumo for esporádico.

“Com base no grande número de pessoas que consomem carne processada, o impacto global sobre a incidência de câncer é uma questão de saúde pública”, disse Kurt Straif, chefe do programa de monografia­s da agência.

Segundo estudo da OMS, 34 mil pessoas morrem por ano devido ao consumo de carne processada — é menos que as 600 mil mortes relacionad­as ao álcool e que o milhão por causa do cigarro. Mas, para a Iarc, o tema precisava ser estudado porque muita gente come carne no mundo.

Fábio Guilherme Campos, presidente da Sociedade Brasileira de Coloprocto­logia, lembra que exercício e o consumo de vegetais e fibras têm impacto positivo na prevenção do câncer de intestino, até mesmo atenuando o impacto negativo causado pelo consumo das carnes processada­s e da carne vermelha.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil