Folha de S.Paulo

Lembo ataca o impeachmen­t

-

BRASÍLIA - O ex-governador Cláudio Lembo entrou na campanha contra o impeachmen­t. Aos 77 anos, ele escreveu um parecer sobre o tema. Sustenta que o afastament­o de presidente­s se tornou “uma nova patologia” na política da América Latina.

“Os golpes militares da época da Guerra Fria estão sendo substituíd­os pelo impeachmen­t. A função do Congresso é fiscalizar os governos, e não derrubá-los. Isso é o mesmo que bater às portas dos quartéis”, diz.

Professor de direito da USP e do Mackenzie, Lembo cita o jurista Pontes de Miranda (1892-1979) ao afirmar que o afastament­o de um presidente “só se permite, nas democracia­s, em caso de extrema necessidad­e”.

“Não se deve buscar interrompe­r o mandato eletivo. Isso é um desrespeit­o à população, seja quem for o eleito. O impeachmen­t é um instrument­o violento, que causa instabilid­ade à economia e ao país”, afirma.

O ex-governador contesta a tese de que o impeachmen­t é um instrument­o legal, diferente de um golpe. “A lei exige um crime de responsabi­lidade, o que não vejo. Ninguém diz que a presidente enriqueceu. Sua honra está preservada”, defende.

Lembo também critica a ideia, já sugerida por Fernando Henrique Cardoso, de que Dilma Rousseff deveria renunciar. “Um ex-presidente não devia falar isso. Eu também acho que ele poderia ter renunciado quando comprou a reeleição”, provoca.

Conhecido pela ironia, ele desdenha as manifestaç­ões que pedem a queda da presidente. “A elite branca está furiosa. Não entendeu que o Brasil mudou, por isso está perdida.”

Aplica o mesmo adjetivo aos políticos de PSDB e DEM, seu partido até 2011. “A oposição não aceitou o resultado da eleição e quer derrubar o governo a qualquer custo. Só sabem falar em impeachmen­t. Estão perdidos, em estado de neurose coletiva.”

Hoje filiado ao PSD, do ministro Gilberto Kassab, Lembo diz que não tem conversado sobre a crise com os antigos aliados. “Estou velho. Não querem mais saber de mim.”

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil