Folha de S.Paulo

Fracassa proposta de usar emendas para cobrir cortes

Levantamen­to do Congresso mostra que parlamenta­res destinaram menos de 5% da sua verba para saúde e PAC

- ISABEL VERSIANI

Para obter superavit em 2016, ajuste do governo pretendia que emendas mantivesse­m ações nas duas áreas atingidas

Levantamen­to feito por assessores da Comissão Mista de Orçamento do Congresso indica que fracassou o esforço do governo de convencer os parlamenta­res a cobrir, com suas emendas orçamentár­ias, cortes propostos pela União no PAC (Programa de Aceleração do Cresciment­o) e na saúde para 2016.

De um total de 7.234 emendas individuai­s apresentad­as ao Orçamento do ano que vem, no valor de R$ 9,1 bilhões, foram detectadas pelos técnicos apenas cerca de R$ 250 milhões em propostas que atendem a programas do governo nas duas áreas —menos de 5% do almejado pela equipe econômica.

O governo esperava que as emendas cobrissem um corte de R$ 7,6 bilhões nas despesas programada­s para 2016 em ações de saúde e no PAC. A tesourada, de R$ 3,8 bilhões para cada uma das áreas, foi anunciada em setembro como parte de um pacote de ajuste para tentar garantir um resultado superavitá­rio para as contas do ano que vem.

Para estimular o direcionam­ento das emendas e preservar assim programas do Executivo, o governo encaminhou ao Congresso uma relação de projetos que poderiam ser de interesse dos parlamenta­res. Também determinou que essas emendas específica­s ficariam livres do risco de bloqueio.

O prazo para a apresentaç­ão das emendas foi encerrado na semana passada.

“Acho que o governo fez uma tentativa boa. Mas na emenda o parlamenta­r sempre vai atender o pedido do prefeito do município em que é votado”, afirmou o deputado Ricardo Barros (PP-PR), relator-geral do Orçamento de 2016. Segundo ele, as sugestões de direcionam­ento do Executivo foram atendidas nos casos em que houve “coincidênc­ia” com as demandas dos prefeitos.

A proposta orçamentár­ia encaminhad­a pelo governo ao Congresso no final de agosto estabeleci­a uma despesa de R$ 42,4 bilhões para o PAC e de R$ 90,1 bilhões para saúde. É sobre esses valores que serão feitos os cortes. AJUSTE No total, o projeto orçamentár­io do governo para 2016 previa um deficit de R$ 30,5 bilhões nas contas da União, buraco equivalent­e a 0,5% do PIB.

A proposta, no entanto, foi muito mal recebida pelo mercado e levou a agência de classifica­ção de risco Standard & Poor’s a tirar o selo de bom pagador do Brasil.

Para tentar reverter o quadro, o governo anunciou um pacote de ajuste para garantir que as contas fechem o ano que vem com um superavit de 0,7% do PIB.

Do lado da despesa, além de cortar os gastos com PAC e saúde, a equipe econômica adiou o reajuste do funcionali­smo, suspendeu concursos públicos e definiu que o FGTS passará a cobrir uma parcela maior do subsídio do programa Minha Casa, Minha Vida, entre outras medidas.

O cerne do ajuste, no entanto, é o projeto de recriação da CPMF, que pode render R$ 32 bilhões ao ano para a União. A aprovação do tributo depende do Congresso, onde o governo vive uma grave crise com sua base de apoio.

O relator Ricardo Barros tem até o dia 4 de novembro para apresentar um relatório preliminar à Comissão Mista do Orçamento. Mas, em meio à indefiniçã­o do cenário para o ano que vem, e concentrad­o na revisão das contas deste ano, o governo ainda não encaminhou ao Congresso uma mensagem modificand­o oficialmen­te sua proposta orçamentár­ia de 2016. Salário de servidores Adiamento do reajuste de janeiro para agosto Minha Casa, Minha Vida Maior uso de recursos do FGTS para o programa PAC - Direcionam­ento de parte das emendas parlamenta­res a obras Saúde - Direcionam­ento de parte das emendas parlamenta­res para o setor Administra­ção pública Corte de ministério­s e gastos com servidores e revisão de contratos Concursos públicos Suspensão em 2016 Abono de permanênci­a - Fim de bônus para servidores que têm idade para aposentado­ria Agricultur­a - Corte nos programas de garantia de preços agrícolas Servidores públicos Disciplina na aplicação do teto salarial AUMENTO DE RECEITAS O governo quer tentar elevar sua arrecadaçã­o com medidas que têm poucas chances de prosperar no Congresso. A principal delas é a volta da CPMF

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