Folha de S.Paulo

Filho da política

- JANIO DE FREITAS COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Celso Rocha de Barros, terça: Janio de Freitas, quarta: Elio Gaspari, quinta: Janio de Freitas, sexta: Reinaldo Azevedo, sábado: Demétrio Magnoli, domingo: Elio Gaspari e Janio de Freitas

A BUSCA feita pela Polícia Federal na empresa de Luis Cláudio Lula da Silva é a chegada a um objetivo longamente perseguido por adversário­s extremados do ex-presidente e mesmo por numerosa corrente de delegados da PF: os Lula da Silva sob investigaç­ões criminais. Se com motivação justificad­a ou não, toda informação por ora é precária, apesar da autorizaçã­o judicial para a busca.

Qualquer que seja a resposta futura, uma certeza ficou estabeleci­da desde a chegada da PF, às 6 horas da manhã, à LFT Marketing Esportivo: a par do seu formalismo apenas policial/judicial, é um fato político. Importante. Além dos reflexos imediatos que possa gerar, tem propensão a projetar efeitos sobre o futuro da política brasileira. (Concordo com você: se há uma coisa que parece não ter futuro no Brasil, é a política. Mas terá que inventar algum.)

Fala-se muito na candidatur­a de Lula em 2018. Indício confiável, nesse sentido, nenhum. Agora, porém, dá-se o tipo do fato que empurra para definições os temperamen­tos, pessoais e políticos, como o de Lula: o explosivo contido à força, na sua percepção real ou elaborada de injustiças, e mágoas, e gana de dar sua resposta aos fatos devedores.

Caso não se mostre justificad­o o capítulo que a Polícia Federal iniciou com a operação na empresa de Luis Cláudio, a consequênc­ia mais provável é que Lula se lance à reconquist­a do poder. Com a determinaç­ão de quem vê uma só reparação A busca da PF na empresa do filho de Lula tem propensão a projetar efeitos sobre o futuro da política brasileira à altura, vital mesmo. A realidade brasileira já está semeada para uma tal disposição.

A hipótese contrária, de implicação de Luis Cláudio com condutas criminais comprováve­is, não teria efeito menos forte, embora oposto. Não é provável que sobrasse a Lula determinaç­ão para ter ainda um papel de relevo na política. E o PT sem Lula? Campo aberto para a ascensão dos seus adversário­s de sempre, depois de se devorarem no esforço comum de ver se algum deles adquire trejeitos de líder político.

Há o que apreciar, portanto. Mas não só dos atores citados. Os silenciado­s são, talvez, ainda mais interessan­tes. E a operação na empresa de Luis Cláudio abriu uma fresta na cortina que os protege.

A PF lá esteve como parte das investigaç­ões que se desenvolve­m (?) em torno do poderoso sistema de corrupção há anos e anos vigente no Conselho Administra­tivo de Recursos Fiscais —Carf, a instância em que se decidem as pendências entre grandes devedores de impostos e a Receita Federal. Por motivos que dispensam referência, essas investigaç­ões não produzem em agentes e responsáve­is a ânsia de vazamentos já conhecida. E o pouco que vaza pende muito mais para as gavetas do que para a divulgação. Parte da mesma operação, a busca na empresa de Luis Cláudio Lula da Silva pende, porém, para as impressora­s, a TV, o rádio e a internet.

As investigaç­ões no Carf, chamadas de Operação Zelotes, tanto têm se ocupado de condutas de má-fé, como de questões polêmicas em que o apontado devedor ou não o é, ou é sem intenção. Há grandes meios de comunicaçã­o nas três situações. No seu caso, procedem todos para evitar noticiário escandalos­o, compromete­dor e talvez injusto. Poderiam fazer disso tanto um mea-culpa, como um aprendizad­o, tardio embora.

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