Folha de S.Paulo

CRISE DA ÁGUA Aposta para evitar rodízio em SP agora precisa de nova obra

Ligação entre represas falha logo após a inauguraçã­o, e governo agora corre para conter alagamento­s no entorno

- FABRÍCIO LOBEL

Sistema de adutoras leva água do Rio Grande ao Alto Tietê, mas volume bombeado está abaixo do prometido

Recém-inaugurada às pressas pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), a interligaç­ão entre dois reservatór­ios que é a principal aposta para evitar um rodízio de água na Grande SP agora precisa de uma outra obra para funcionar como o prometido.

Essa interligaç­ão, por meio de 9 km de adutoras e ao custo de R$ 130 milhões, inicialmen­te estava prometida para maio, mas entregue no final do mês passado. Ela leva água do cheio sistema Rio Grande (braço da represa Billings) para o quase seco Alto Tietê, manancial ao leste da capital.

A promessa é que 4.000 litros de água por segundo fossem de um sistema ao outro por meio dessa tubulação.

O problema é que a força da água atropelou as projeções iniciais do governo.

A água chega com força pelas adutoras e é despejada em um córrego do sistema Alto Tietê. Inicialmen­te, o governo limpou esse pequeno rio, tirou o mato e ampliou as margens. Mas não foi suficiente.

Após o ligamento das bombas (que chegaram apenas a 50% de sua potência), as margens não aguentaram e começaram a ceder, caindo dentro do curso da água. Isso provocou um alagamento de uma rua no município de Ribeirão Pires (Grande São Paulo).

Além do transborda­mento, a água fez com que a Defesa Civil da cidade interditas­se três estabeleci­mentos.

Entre eles, está a casa de Romana Martins, 19. “Nos disseram que não podemos mais andar pelo corredor de fora da casa, nem usar o jardim. Estamos com medo.”

Desde a inundação, a Sabesp (empresa de água do Estado) teve que reduzir o bombeament­o de água para até 1.000 litros/segundo, bem abaixo dos 4.000 litros/segundos prometidos por Alckmin.

Agora, para que o bombeament­o possa voltar ao ritmo prometido, será preciso refazer uma estrutura onde a água desemboca —entre a tubulação e o córrego.

Conhecida como caixa de dissipação, a estrutura que lembra uma escada serve para diminuir a força da água.

Para engenheiro­s do Departamen­to de Águas e Energia (Daee), vinculado ao governo Estadual, essa caixa não teve o resultado esperado.

Além disso, serão construída­s paredes com pedras ao longo do curso do córrego, por cerca de 200 metros. O objetivo é reforçar a margem, para evitar que terra caia no leito.

Com as novas intervençõ­es, a interligaç­ão funcionará plenamente só em 35 dias, segundo estima o governo.

O Daee não soube informar os custos das novas intervençõ­es no córrego.

Em entrevista em março, o secretário Benedito Braga (Recursos Hídricos) havia dito à Folha que o córrego seria capaz de aguentar essa água.

Para os técnicos do governo, já era esperado que uma grande obra hidráulica tivesse um período de adaptações e correções de defeitos. Ainda segundo o Estado, essa é uma obra que, apesar de efeitos emergencia­is, têm também efeitos de médio prazo.

Além de abastecer diretament­e o Alto Tietê, essa obra pode beneficiar também o sistema Cantareira. A água excedente será empurrada por meio da rede de abastecime­nto para residência­s das zonas norte e leste da capital.

 ??  ?? Obra para reforçar margem de córrego em Ribeirão Pires, na Grande SP, e evitar que caia terra dentro da água; por causa das reformas, interligaç­ão entre mananciais levará 35 dias
Obra para reforçar margem de córrego em Ribeirão Pires, na Grande SP, e evitar que caia terra dentro da água; por causa das reformas, interligaç­ão entre mananciais levará 35 dias

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil