Em SP, soneca na rua varia de R$ 12 em ‘cochilódromo’ a zero na livraria
Empresa aluga espaço para paulistanos que querem dormir no meio do expediente
São só 15 minutos e a cama vai vibrar, como um despertador. Mas não é hora de pensar nisso. Deita-se de sapato, e um botão ao lado aciona música clássica ou new age.
A luz azul e o aperto lembram um filme de ficção científica. Mas 15 minutos não são um ano-luz: a cama treme e já é hora de voltar ao trabalho.
Cochilar não é difícil no Cochilo, loja que aluga uma área de 2,6 m² para uma soneca. “A luz azul usa o conceito da cromoterapia”, diz Alícia Jankavski, 48, dona da loja.
A ideia de abrir a empresa surgiu em 2011, quando Marcelo Von Ancken, marido de Alícia, teve que esperar três horas por uma reunião que atrasou. Quando perde o cochilo habitual , o empresário “não passa bem” o dia.
Enquanto aguardava, ele tentou dar uma dormidinha em uma poltrona do shopping Morumbi. Logo foi interrompido por um segurança. Ali, no centro de compras, não é lugar para isso.
Também não eram lugares para isso outros lugares da cidade que, pela procura e falta de proibição, se tornaram “cochilódromos” não oficiais.
O site Google Naps [soneca] chegou a listar alguns deles: Livraria Cultura do Conjunto Nacional, Fnac da Paulista, Centro Cultural São Paulo, Cinesesc.
Na Livraria Cultura, que tem o maior fluxo de clientes justamente no horário do almoço, um espaço com pufes e bancos fica cheio de cochiladores. Alguns deitam no chão acarpetado mesmo.
A livraria não orienta os funcionários a interromper o sonho alheio —a exceção é quando alguém atrapalha a passagem de outros clientes. “E claro que não dá para deixar a pessoa dormindo o dia todo”, diz uma funcionária.
No Cinesesc, na rua Augusta, a “pescadinha” acontece principalmente na sessão das 14h. Na sala grande e vazia, a meia entrada sai por R$ 3,50.
No Cochilo, o sono de 15 minutos custa R$ 12. Na média, os clientes pedem de 30 minutos para cima. Há vagas para mensalistas.
A estagiária de direito Karen Cintra, 25, pediu meia hora na terça (20). Naquele dia, ela precisou estudar até as 3h. Acordou às 5h para ir ao estágio no centro. Depois do almoço, estava “morta”. “Duas vezes por semana dou uma escapada e tiro uma soneca”.
“Tem muito preconceito das empresas contra funcionários que gostam de cochilar mesmo que rápido. Ele podem até produzir melhor”, diz Alícia, do Cochilo.
Em Bento Gonçalves, na serra gaúcha, a empresa de móveis Politorno criou há dez anos seu próprio cochilódromo, com dez camas em uma sala. Os funcionários podem dormir por até 45 minutos após o almoço. “Vai que a pessoa comeu demais e está cansada”, afirma Thiago Sacchaett, 30, analista de marketing da empresa.