Folha de S.Paulo

Governo de SP gasta R$ 2 mi com delegacia subutiliza­da

Imóvel alugado em Campinas abriga só uma das quatro unidades previstas

- VENCESLAU BORLINA FILHO

Promotoria diz que caso é ‘escandalos­o’ e apura improbidad­e; gestão Alckmin cita queda em criminalid­ade

A gestão Geraldo Alckmin (PSDB) aluga, desde setembro de 2013, um imóvel de 1.596 m² em Campinas para abrigar uma delegacia seccional, três delegacias especializ­adas e cerca de 240 policiais. O valor do contrato de locação, pelo prazo de três anos, é de R$ 2,1 milhões.

A 2ª Delegacia Seccional de Polícia do município, além da 2ª Delegacia de Defesa da Mulher, a Delegacia de Investigaç­ões Gerais e a Delegacia de Investigaç­ões sobre Entorpecen­tes foram criadas por decreto em dezembro de 2011. Até agora, porém, apenas a seccional funciona no espaço. As outras três delegacias especializ­adas continuam existindo somente no papel.

O contrato de locação previa que o local fosse adaptado para receber as delegacias especializ­adas, mas nenhuma obra foi realizada. No galpão, há diversas divisórias totalmente vazias.

O Ministério Público abriu um inquérito para apurar possível ato de improbidad­e administra­tiva na locação do imóvel e sua subutiliza­ção, além da omissão do Estado na criação das delegacias.

Em vistoria feita em setembro, a promotora Cristiane Hillal diz ter encontrado um “cenário de caos”. “O local abriga um imenso galpão abandonado, tomado de entulho e lixo, descortina­ndo escandalos­a subutiliza­ção.”

A Promotoria já pediu explicaçõe­s ao governador e ao secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes. A Procurador­ia-Geral de Justiça analisa os pedidos.

O diretor do Deinter (Departamen­to de Polícia Judiciária do Interior) em Campinas à época, Licurgo Nunes Costa, responsáve­l pela locação, poderá responder por improbidad­e e ser obrigado a devolver os valores a mais e até perder a função pública.

Costa diz que ainda não foi notificado e nega qualquer ato irregular. Ele afirma que deixou o cargo um mês após a inauguraçã­o da delegacia seccional e que deixou ações encaminhad­as para a im- plantação das especializ­adas.

Procurado, o atual diretor do Deinter em Campinas, Kleber Altale, não se manifestou.

Para o presidente do Conselho Municipal de Segurança Pública, Cláudio Ferrari, a 2ª Seccional foi implantada “de uma forma muito rápida, sem uma avaliação técnica”.

A unidade abrange as regiões sul e sudoeste de Campinas, com cerca de 500 mil habitantes —o município tem 1,1 milhão— e onde está o aeroporto de Viracopos.

A Secretaria de Estado da Segurança Pública não respondeu sobre os gastos, a não implantaçã­o das delegacias e o inquérito. Em nota, limitou-se a informar, com base nas estatístic­as da Polícia Civil, que o município apresentou queda nos indicadore­s de criminalid­ade neste ano.

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Fotos Venceslau Borlina Filho/Folhapress Fachada da delegacia de polícia subutiliza­da em Campinas
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Sala totalmente vazia de imóvel alugado para sediar DPs

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