Folha de S.Paulo

Essas declaraçõe­s para não perder o voto da chefe.

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“Serei mais Scioli do que nunca”, prometeu o candidato da situação à Presidênci­a da Argentina, Daniel Scioli. No inédito segundo turno da eleição presidenci­al no país, a avaliação de analistas é que ele tentará se distanciar da presidente Cristina Kirchner, cuja influência pode ter afetado seu desempenho na votação de domingo, dia 25.

Com popularida­de em alta no fim do mandato, acima de 40%, Cristina se manteve no centro das atenções na campanha. Indicou como vice um nome de confiança, Carlos Zannini, e fez inúmeras aparições em rede nacional defendendo sua gestão.

Forçou a candidatur­a de seu polêmico ministro Aníbal Fernández, acusado de envolvimen­to com narcotráfi­co, a governador da província de Buenos Aires, maior colégio eleitoral do país. Fernández perdeu e Cristina causou uma fadiga que pode ter queimado seu presidenci­ável antes da linha de chegada.

“As pessoas não querem votar no candidato de alguém, querem votar no seu próprio candidato”, avalia o analista Ricardo Rouvier.

O protagonis­mo da presidente ainda dividiu o peronismo entre kirchneris­tas e dissidente­s, fazendo com que muitos optassem por Sergio Massa, o terceiro nas urnas com 21% dos votos.

Adotar um tom crítico ao governo, admitindo a necessidad­e de mudanças, deveria ser, portanto, o caminho buscado por Scioli, avalia o sociólogo

MARCOS NOVARO

sociólogo Marcos Novaro.

“Scioli está buscando o próprio caminho. Tem que convencer Cristina a ficar calada, a deixá-lo a fazer a campanha que não pôde fazer antes”, disse. “Ele tem que explicar quais são as coisas que ele quer melhorar no país.”

No início da corrida eleitoral, Scioli chegou a levantar o slogan da continuida­de com mudanças, mas guardou OPOSIÇÃO Mauricio Macri, da coligação Mudemos, parece ter vantagem hoje no debate entre continuida­de e mudança que dividiu a política argentina.

Embora tenha ficado em segundo na votação, está sendo tratado como vitorioso por levar a disputa para o inédito segundo turno.

“As pessoas deixaram claro que não querem continuida­de”, diagnostic­ou o terceiro colocado, Sergio Massa. “As pessoas votaram contra Cristina, contra La Cámpora e contra [Aníbal] Fernández.”

Fora da disputa final, Massa está sendo assediado pelos dois adversário­s, que cobiçam seu apoio. Ele mantém

Scioli tem que convencer Cristina a deixá-lo a fazer a campanha que não pôde fazer antes

mistério, mas suas declaraçõe­s o deixam mais próximo de Macri neste momento.

“Enquanto Scioli não for o líder de sua força política, ele não pode governar. Tem que deixar de ser empregado de Cristina”, disse Massa a uma rádio local nesta terça (27).

Nicolás del Caño, candidato da Frente de Esquerda e quarto colocado na eleição (3,3%), pediu que seus eleitores votassem em branco.

A quinta, Margarita Stolbizer (2,5%), que tem votos da classe média, disse resistir a Scioli por ele representa­r continuida­de.

Para Novaro, a nova estratégia de comunicaçã­o de Scioli tem riscos. Ele pode perder votos de sua base mais fiel. Por outro lado, se não se distanciar de Cristina, não conseguirá somar eleitores.

“Scioli terá que escolher se insiste na ideia de polarizar entre dois modelos de país ou se tentará buscar aliados optando pela moderação. Se for pelo primeiro caminho, não cresce e poderá perder da maioria que pede mudança.”

Os assessores de Scioli passaram boa parte desta terça (27) reunidos, definindo a estratégia do segundo turno.

Em entrevista a uma TV, o candidato deu pistas de como conduzirá a nova etapa.

Falando em “grande final”, indicou que poderá colocar Cristina no banco de reservas. “Nunca fui uma pessoa rígida, sempre falei em evolução, em seguir transforma­ndo. Minha proposta é a continuida­de com as mudanças que sejam possíveis”, afirmou.

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David Fernández-26.out.15/Efe Daniel Scioli, candidato à Casa Rosada alinhado a Cristina Kirchner, concede entrevista coletiva um dia após a eleição

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