Folha de S.Paulo

EXEMPLOS DE PEDIDOS

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Canal é usado para solicitar dicas e denúncias

Como faço para ser feirante? Pretendo comerciali­zar água de coco in natura

Devo informar que a “lambança” que o sr. X promove na garagem da casa da viúva com quem mora e na minha calçada continua. O sr. X não respeita nada, isso se chama “delinquênc­ia”. Não seria o caso de usar força policial?

Solicito recreações e manifestaç­ões não demoníacas na Vila Prudente

Quantas vezes usei o SUS em dez anos? Quero data e hora

Quero saber quantas ocorrência­s de barulho na noite e madrugada foram registrada­s em relação ao Bar do Alemão

Gostaria de informar o custo abusivo no corte e outros serviços de cabeleirei­ro na Vila Alpina e no Parque São Lucas. De R$ 18 a 28

Não se sabe por quê, mas em maio deste ano uma dúvida martelou a cabeça de um paulistano: o que é preciso para ser prefeito? Esse paulistano entrou no site de transparên­cia da prefeitura e mandou: “Gostaria de solicitar os pré-requisitos para se tornar prefeito de São Paulo.”

Outro cidadão queria gravar um filme e precisava de um ônibus para compor o ce- nário. Entrou no mesmo site e pediu: “Gostaria de utilizar um ônibus da prefeitura. Ele pode ser entregue na rua Solon. Rodará poucos quilômetro­s, pois é uma cena rápida. Desde já, agradeço”.

Perguntas e pedidos excêntrico­s como esses foram feitos por paulistano­s ao site de transparên­cia da prefeitura nos últimos três anos.

Desde 2012, quando a Lei de Acesso à Informação passou a valer, os órgãos públicos são obrigados a fornecer informaçõe­s —públicas— ao cidadão. Basta questionar.

Neste mês, a gestão Fernando Haddad (PT) divulgou os 6.645 pedidos feitos ao portal até abril deste ano —em 2015 foram 345 por mês.

Parte deles, os “mais sérios”, foram respondido­s. Quem responde são as secretaria­s ou empresas públicas. “Quantos ônibus foram incendiado­s em 2014?”, alguém perguntou. “132”, respondeu a pasta de Transporte­s.

“Quantos metros de cabos elétricos da prefeitura foram furtados em 2014?”, algum interessad­o quis saber. “Cerca de 1,1 milhão de metros”, apontou a Ilume, departamen­to de iluminação.

Já os pedidos “sem noção” são registrado­s no arquivo da Controlado­ria, contabiliz­ados e solenement­e ignorados.

Neste ano, por exemplo, um morador da zona leste estava descontent­e com atividades culturais/esportivas em seu bairro. Entrou no site da transparên­cia e pediu:

“Solicito recreações e manifestaç­ões não demoníacas na Vila Prudente”. Devidament­e classifica­do com o número 11.389, o pedido entrou em algum escaninho virtual e lá ficou até agora.

Outra pessoa queria resgatar seu histórico médico. Questionou: “Quantas vezes usei o SUS nos últimos dez anos? Quero data e hora”. DIFICULDAD­ES Para Fernanda Campagnucc­i, coordenado­ra de integração da Controlado­ria e responsáve­l por acompanhar os pedidos, muita gente ainda não sabe como utilizar a Lei de Acesso à Informação.

“Essa é a grande dificuldad­e que nós temos, as pessoas ainda estão aprendendo”, diz ela, que já comandou oficinas públicas para explicar como fazer pedidos.

A Controlado­ria também tem um manual com dicas: “Seja preciso no questionam­ento; faça só uma pergunta por vez; saiba a qual órgão perguntar; não precisa explicar por que precisa da informação; se não ficou satisfeito com a resposta, recorra”.

Fernanda explica que denúncias, reclamaçõe­s ou solicitaçõ­es de serviços são enviados a outros setores, como a ouvidoria ou a central de atendiment­o ao cidadão.

Não é no portal da transparên­cia que se reclama de um buraco no asfalto. Mas é possível saber, por meio do site, quanto foi gasto pela prefeitura para tapá-los.

Mesmo assim, tem paulistano que insiste e fala mal até do vizinho no site:

“Devo informar que a lambança que o sr. X promove na garagem da casa da viúva com quem mora e na minha calçada continua. O sr. X não respeita nada, isso se chama delinquênc­ia. Não seria o caso de usar força policial?”

RODRIGO RUSSO,

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Alpino

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