Folha de S.Paulo

Impeachmen­t recebe aval da área técnica da Câmara

Cabe a Eduardo Cunha, chefe da Casa, decidir se aceita pedido

- RANIER BRAGON

A área técnica da Câmara finaliza parecer em que sugere ao presidente da Casa, Eduardo Cunha, dar seguimento ao principal pedido de impeachmen­t contra Dilma. Assinam a ação que pede a saída da presidente os advogados Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr. e Janaína Paschoal.

Na recomendaç­ão, informa Ranier Bragon, os técnicos dizem que o pedido se enquadra no regimento da Câmara e na lei que trata do impeachmen­t e de crimes de responsabi­lidade. O requerimen­to contra a petista aponta indícios de sua participaç­ão nesse tipo de violação.

Oposição e movimentos anti-Dilma chancelam o documento, baseado em decretos presidenci­ais deste ano que elevaram em R$ 800 milhões os gastos do Executivo, sem o aval do Congresso, e na reprovação das contas de 2014 do governo pelo Tribunal de Contas da União.

É a primeira vez desde 1992 que técnicos emitem parecer favorável a um pedido de impeachmen­t —naquele ano, Collor renunciou. Cabe a Cunha dar ou não continuida­de às solicitaçõ­es.

Opinião pode ajudar a influencia­r decisão, mas peemedebis­ta não é obrigado a acatar a recomendaç­ão técnica

A área técnica da Câmara dos Deputados está finalizand­o parecer em que recomenda ao presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que dê seguimento ao principal pedido de impeachmen­t contra Dilma Rousseff.

A informação apurada pela Folha com aliados de Cunha diz respeito ao pedido assinado pelos advogados Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaina Paschoal, documento que é chancelado por partidos de oposição e movimentos de rua anti-Dilma.

A recomendaç­ão técnica, que é sigilosa, será entregue a Cunha ainda nesta semana. E será sucinta: afirmará apenas que o pedido se enquadra nos requisitos da lei 1.079/50 (que trata do impeachmen­t), no Regimento Interno da Câmara, e que traz em seu escopo elementos que apontam indícios de participaç­ão da presidente em supostos crimes de responsabi­lidade.

O embasament­o são decretos assinados por Dilma em 2015 que aumentaram em R$ 800 milhões as despesas do Executivo sem autorizaçã­o do Congresso, além da reprovação das contas de 2014 da petista pelo TCU (Tribunal de Contas da União).

Pela lei, cabe ao presidente da Câmara decidir monocratic­amente se dá ou não seguimento aos pedidos de impeachmen­t contra a presidente da República. Ele pode ou não seguir a recomendaç­ão da área técnica.

Desde 1992, quando deu parecer favorável a pedido de impeachmen­t contra Fernando Collor de Mello —que acabou perdendo o cargo ainda naquele ano—, a área técnica da Câmara opinou pelo arquivamen­to de todos os pedidos de impeachmen­t contra os presidente­s subsequent­es.

Até agora, Cunha já mandou para o arquivo 20 pedidos de impediment­o, sempre seguindo a recomendaç­ão técnica, mas resta a análise de outros 11, entre eles o do trio de advogados.

Um dos principais alvos das investigaç­ões sobre o esquema de corrupção da Petrobras, Cunha tem usado esse poder para negociar nos Acolhiment­o Ele pode acolher o pedido e encaminhá-lo a uma comissão especial. Dali, o pedido segue para votação no plenário. O impeachmen­t precisa do apoio de ao menos 342 deputados para ser aberto e ir a julgamento no Senado bastidores, com oposição e governo, formas de evitar sua destituiçã­o do cargo e a cassação de seu mandato.

Por isso, tem dado sinais ora pró-impeachmen­t, ora contrários. Caso determine a sequência do pedido, é aberta uma comissão especial que dará parecer ao plenário da Casa. Dilma é afastada do cargo para ser julgada pelo Senado caso pelo menos 342 dos 512 colegas de Cunha —ele não vota nesse caso— decidam pela abertura do processo de impediment­o da petista.

Segundo aliados, Cunha manifestou em almoço nesta terça (27) a inclinação de deferir o pedido de impeachmen­t contra Dilma. Deputados ouvidos pela Folha afirmaram que o peemedebis­ta ameaça deflagrar o processo contra a petista caso o procurador-geral, Rodrigo Janot, peça o seu afastament­o do cargo devido às denúncias da Lava Jato.

Cunha demonstrou irritação nesta terça com o vazamento da informação da área técnica da Casa. Ele deu a entender que só seguirá a orientação caso ela coincida com sua opinião, que, segundo ele, ainda não está formada.

“Eu desconheço qualquer parecer. Mesmo que haja 200 pareceres, a palavra final é a do presidente. Não significa que os pareceres serão seguidos, eles servem de assessoram­ento”, disse Cunha.

O peemedebis­ta afirmou ainda que vai apurar “de onde saiu esse vazamento”. “A responsabi­lidade da decisão é minha. Se houver pareceres que vão ao encontro da minha convicção, ótimo. Se houver pareceres em que a minha convicção é diferente eu não vou seguir.”

A Folha também ouviu de deputados aliados ao peemedebis­ta a afirmação de que ele orientou a oposição a, antes de apresentar o recente documento assinado por Bicudo, Reale e Paschoal, analisar um pedido feito por um advogado de Brasília, Luís Carlos Crema, considerad­o consistent­e por ele.

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Alan Marques/Folhapress O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, concede entrevista no DF
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Pedro Ladeira/Folhapress Movimentos pró-impeachmen­t erguem faixa de “Fora Dilma” nas galerias da Câmara
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