Folha de S.Paulo

Universida­des de SP ampliam prática nos cursos de pedagogia

Currículos de universida­des paulistas devem destinar 30% da carga a atividades pedagógica­s

- FÁBIO TAKAHASHI

Por determinaç­ão do Conselho Estadual de Educação, USP, Unesp e Unicamp têm ampliado a carga de aulas práticas nos cursos de pedagogia e nas licenciatu­ras. Autoridade­s e especialis­tas criticam o excesso de teoria na formação docente.

Ministro da Educação e secretário de SP diziam que cursos eram muito teóricos; medida causa divergênci­a na área

Um dos principais pedidos de ministros e secretário­s de Educação começa a ser atendido por USP, Unesp e Unicamp: cursos que formam professore­s para o ensino básico estão em reformulaç­ão, com aumento da carga horária para atividades práticas.

O ministro Aloizio Mercadante e o secretário de Educação de SP, Herman Voorwald, já reclamaram publicamen­te que os estudantes de pedagogia e de licenciatu­ra se formam sem saber ensinar, pois tiveram excesso de teoria.

Os formados em pedagogia atuam como professore­s do ensino infantil e nos primeiros anos do ensino fundamenta­l; os de licenciatu­ra, nas demais séries.

As alterações nas instituiçõ­es paulistas só começaram, porém, após o Conselho Estadual de Educação intervir no processo. O órgão normativo determinou que currículos de licenciatu­ra devem ter ao menos 30% da carga horária destinada a atividades didático-pedagógica­s.

Segundo a conselheir­a Rose Neubauer, uma das autoras da norma, havia cursos em que esse índice era de 10% (ela não quis citar quais).

Pesquisa feita pela também conselheir­a Bernardete Gatti apontou que, no país, a média da carga para atividades práticas chega a apenas 10% em algumas áreas de formação de docentes, como a de ciências biológicas.

“Os cursos se preocupam mais em formar um físico, um químico, um matemático, do que um professor”, afirmou Neubauer. Num primeiro momento, as universida­des contestara­m a regra, de 2012. Pediram a revogação e ameaçaram entrar na Justiça.

O conselho manteve a decisão e passou a ameaçar não conceder a renovação para funcioname­nto dos cursos, conforme a Folha revelou ano passado. Sem isso, não poderiam emitir diplomas.

Pressionad­as, as universida­des decidiram concordar com a regra. A adaptação começou neste ano e já abrangeu 44 (60%) dos cursos analisados pelo conselho. Os demais estão em processo de revisão ou sob análise.

A norma exige ainda que 50% do estágio obrigatóri­o seja cumprido em salas de aula das escolas. Também passaram a ser obrigatóri­as aulas de português na graduação. As medidas valem para pedagogia e licenciatu­ra. ADAPTAÇÃO Entre os cursos que já se adaptaram está o de química, do campus central da USP. Para aumentar a carga horária de disciplina­s relacionad­as ao ensino, foram reduzidas as que tratam de química especifica­mente, o que causou reclamaçõe­s do coordenado­r do curso (leia mais ao lado).

Para o presidente do Consed (representa­nte de secretário­s estaduais de Educação), Eduardo Deschamps, “a formação dos professore­s tem sido muito conceitual e teórica. A norma do conselho parece bem equilibrad­a”.

Já o pesquisado­r Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da USP, afirma que a regra tem alcance limitado.

“Nem nos melhores [cursos] do mundo o estudante sai da universida­de já preparado para lecionar. O que é fundamenta­l é o acompanham­ento desses jovens professore­s nas redes”, disse.

Apesar de ter apenas 1,5% das matrículas dos cursos de licenciatu­ra do país, as três universida­des paulistas são considerad­as guias para as demais instituiçõ­es.

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Eduardo Knapp - 17.ago.2012/Folhapress Fachada da faculdade de educação da Unicamp; cursos terão maior carga horária prática

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