Universidades de SP ampliam prática nos cursos de pedagogia
Currículos de universidades paulistas devem destinar 30% da carga a atividades pedagógicas
Por determinação do Conselho Estadual de Educação, USP, Unesp e Unicamp têm ampliado a carga de aulas práticas nos cursos de pedagogia e nas licenciaturas. Autoridades e especialistas criticam o excesso de teoria na formação docente.
Ministro da Educação e secretário de SP diziam que cursos eram muito teóricos; medida causa divergência na área
Um dos principais pedidos de ministros e secretários de Educação começa a ser atendido por USP, Unesp e Unicamp: cursos que formam professores para o ensino básico estão em reformulação, com aumento da carga horária para atividades práticas.
O ministro Aloizio Mercadante e o secretário de Educação de SP, Herman Voorwald, já reclamaram publicamente que os estudantes de pedagogia e de licenciatura se formam sem saber ensinar, pois tiveram excesso de teoria.
Os formados em pedagogia atuam como professores do ensino infantil e nos primeiros anos do ensino fundamental; os de licenciatura, nas demais séries.
As alterações nas instituições paulistas só começaram, porém, após o Conselho Estadual de Educação intervir no processo. O órgão normativo determinou que currículos de licenciatura devem ter ao menos 30% da carga horária destinada a atividades didático-pedagógicas.
Segundo a conselheira Rose Neubauer, uma das autoras da norma, havia cursos em que esse índice era de 10% (ela não quis citar quais).
Pesquisa feita pela também conselheira Bernardete Gatti apontou que, no país, a média da carga para atividades práticas chega a apenas 10% em algumas áreas de formação de docentes, como a de ciências biológicas.
“Os cursos se preocupam mais em formar um físico, um químico, um matemático, do que um professor”, afirmou Neubauer. Num primeiro momento, as universidades contestaram a regra, de 2012. Pediram a revogação e ameaçaram entrar na Justiça.
O conselho manteve a decisão e passou a ameaçar não conceder a renovação para funcionamento dos cursos, conforme a Folha revelou ano passado. Sem isso, não poderiam emitir diplomas.
Pressionadas, as universidades decidiram concordar com a regra. A adaptação começou neste ano e já abrangeu 44 (60%) dos cursos analisados pelo conselho. Os demais estão em processo de revisão ou sob análise.
A norma exige ainda que 50% do estágio obrigatório seja cumprido em salas de aula das escolas. Também passaram a ser obrigatórias aulas de português na graduação. As medidas valem para pedagogia e licenciatura. ADAPTAÇÃO Entre os cursos que já se adaptaram está o de química, do campus central da USP. Para aumentar a carga horária de disciplinas relacionadas ao ensino, foram reduzidas as que tratam de química especificamente, o que causou reclamações do coordenador do curso (leia mais ao lado).
Para o presidente do Consed (representante de secretários estaduais de Educação), Eduardo Deschamps, “a formação dos professores tem sido muito conceitual e teórica. A norma do conselho parece bem equilibrada”.
Já o pesquisador Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da USP, afirma que a regra tem alcance limitado.
“Nem nos melhores [cursos] do mundo o estudante sai da universidade já preparado para lecionar. O que é fundamental é o acompanhamento desses jovens professores nas redes”, disse.
Apesar de ter apenas 1,5% das matrículas dos cursos de licenciatura do país, as três universidades paulistas são consideradas guias para as demais instituições.