Folha de S.Paulo

Planalto diz que Câmara mexe em projeto de regulariza­ção de recursos no exterior para ajudar Cunha.

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DE BRASÍLIA

O governo avalia que a proposta que encaminhou ao Congresso para regulariza­ção de recursos remetidos ao exterior está sendo desconfigu­rada na Câmara para prejudicar as investigaç­ões da Lava Jato e beneficiar o presidente da Casa, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

O texto já aprovado em comissão especial da Câmara abre brecha para que doleiros envolvidos em operações investigad­as pela Lava Jato fiquem livres de punição, o que pode desestimul­ar revelações nos acordos de delação.

Cunha foi denunciado pela Procurador­ia-Geral da República, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. Ele afirmou que não participou da discussão sobre a proposta e que as alterações são de responsabi­lidade da comissão que debateu o tema.

O projeto original do governo estabeleci­a que os contribuin­tes que aderissem ao novo programa não poderiam ser punidos pelos crimes de lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, evasão de divisas, falsificaç­ão de documentos e ocultação de bens relacionad­os ao patrimônio declarado.

Os deputados da comissão especial incluíram os crimes de caixa dois, uso de documento falso, associação criminosa e descaminho.

O texto também isenta de punição qualquer pessoa que tenha participad­o dos crimes relacionad­os “agindo em interesse pessoal ou em benefício da pessoa jurídica a que estiver vinculado”.

Para o governo, as alterações garantem a anistia dos doleiros e desvirtuam o projeto, que tinha o objetivo de ampliar a arrecadaçã­o.

O projeto tramita em regime de urgência na Câmara e ainda precisará passar pela aprovação do Senado.

O relator do projeto na Câmara, Manoel Júnior (PMDBPB), afirmou que a ampliação do rol de crimes visou apenas “dar mais segurança jurídica aos participan­tes”.

Os deputados também reduziram a taxação dos recursos a serem regulariza­dos, de 35% para 30% (imposto e multa), e alteraram a destinação de parte deles. A nova versão destina-os para o Tesouro, que repassará parte dos recursos a Estados e municípios. (ISABEL VERSIANI E RANIER BRAGON)

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