Folha de S.Paulo

70 anos depois, do áudio original da rendição do imperador Hirohito.

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Dez em cada dez japoneses têm respeito e admiração pela família imperial, mais antiga monarquia hereditári­a do mundo (fundada, segundo a tradição, em 660 a.C.).

Sempre foi assim no Japão. A única diferença é que, até poucas décadas, a monarquia nipônica mantinha uma aura divina, que acabou com a Segunda Guerra (1939-45).

Os tempos mudaram, o imperador é outro, mas os sentimento­s da população japonesa em relação à Casa Imperial se mantêm.

Entretanto, o sempre simpático imperador Akihito tem opinado mais sobre a política nos últimos tempos.

Prestes a completar 82 anos, ele vem insistindo no tema da paz. “Refletindo sobre nosso passado e tendo em conta os sentimento­s de profundo remorso ao longo da última guerra, espero, sinceramen­te, que os estragos da guerra nunca sejam repetidos”, disse em um discurso em agosto, durante as celebraçõe­s do 70º aniversári­o do fim da Segunda Guerra.

Akihito ergueu sua voz em um momento em que milhares de pessoas saíam às ruas diariament­e em protestos inéditos no Japão por causa das reformas na Constituiç­ão pacifista propostas pelo primeiro-ministro, Shinzo Abe.

Entre as principais mudanças, aprovadas pelo Parlamento em setembro passado, está a permissão para que as tropas de autodefesa japonesas participem de guerras.

Para os especialis­tas que acompanham a família imperial japonesa, o imperador deu claros sinais de que é contra a política de Abe.

Ele chegou a autorizar a divulgação, PAPEL Os membros da Casa Imperial do Japão realizam deveres sociais e cerimoniai­s, sem papel nas relações do governo. Mas esse episódio mostra o quanto Akihito, o filho mais velho do imperador Hirohito (1901-1989) e da imperatriz Nagako (1903-2000), se preocupa com o país e, embora discreto, verbaliza opiniões.

Akihito ganhou notoriedad­e por causa justamente dos gestos humanitári­os.

Ele, que é o 125º imperador do Japão, foi o primeiro membro da família imperial a se casar com uma plebeia, a imperatriz Michiko. Teve dois filhos, o príncipe herdeiro Naruhito e Akishino, que está no Brasil para as celebraçõe­s dos 120 anos de relações entre os dois países.

O grande debate na última década envolvendo a família imperial foi em torno da mudança da Lei de Sucessão Imperial de 1947.

Um comitê do governo queria fazer uma alteração na legislação para garantir que o primogênit­o dos príncipes herdeiros, de qualquer sexo, se tornasse o herdeiro do Trono do Crisântemo.

O príncipe Hisahito é o único neto homem do imperador Akihito e, portanto, terceiro na linha sucessória ao trono.

Ele é filho de Akishino e da princesa Kiko, e seu nascimento, há nove anos, deixou em suspenso esses planos de reforma da lei na monarquia mais antiga do planeta, regida pela linha hereditári­a com prevalênci­a masculina.

O príncipe herdeiro, Naruhito, e sua esposa, a princesa Masako, têm apenas uma filha, Aiko, 13.

Na Constituiç­ão do Japão,

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