Folha de S.Paulo

Visita comove primeiras gerações no Brasil

Membros da comunidade com 70 anos ou mais são os que mais reverencia­m família imperial; jovens perdem vínculo

- JULIANO MACHADO

Miyoshi Egashira, 81, terá ‘grande honra’ de falar com Akishino; para mais velhos, apenas vê-lo já traz ansiedade

A comunidade japonesa no Brasil esperou sete anos para voltar a receber um membro da Casa Imperial.

O nível de expectativ­a com a visita do príncipe Akishino, porém, varia com a idade dos cerca de 1,9 milhão de japoneses e descendent­es no país —a maior comunidade fora do Japão. Os mais velhos não viam a hora de ele e a princesa Kiko chegarem; a maioria dos jovens não tem dado muita atenção.

A família de Alberto Oppata, 50, é um exemplo da diferente visão de gerações sobre a família imperial.

Presidente da Associação Cultural de Tomé-Açu (PA) — cidade ao sul de Belém colonizada por agricultor­es japoneses no fim dos anos 20—, ele foi convidado para ver Akishino em um evento na capital paraense na próxima terça-feira (3). Oppata conta que os pais, de 84 e 77 anos, estão ansiosos, enquanto as filhas dele, de 10 e 16, não quiseram viajar para estar perto do príncipe.

“Os mais idosos, especialme­nte a primeira ou segunda geração japonesa no Brasil, ainda veem o imperador e seus filhos com reverência, como um símbolo do período em que deixaram seu país. Esse sentimento não existe entre netos, bisnetos”, diz Oppata. “Se fosse um cantor sertanejo em Belém, minha filha ia voando. O príncipe, para ela, é apenas uma pessoa famosa”, brinca.

A maioria dos japoneses que migraram para o Brasil veio antes ou durante a Segunda Guerra Mundial (19391945), quando o imperador ainda era oficialmen­te considerad­o uma figura divina no Japão. Esse status foi perdido na Constituiç­ão pós-guerra, mas de certa forma “congelou-se” no imaginário de quem viveu aquela época. FALAR COM O PRÍNCIPE Para os mais velhos da comunidade japonesa, já é uma honra só o fato de estar no mesmo recinto que o príncipe Akishino. Muitos gostariam de falar com ele, mas sabem que dirigir-lhe a palavra é proibido pelas regras do rígido protocolo. Convidados só podem fazer isso se a iniciativa partir de Akishino—está escrito nos convites enviados pelos consulados do Japão.

Essa orientação não vale para o economista e tradutor Miyoshi Egashira, 81. Ele será o responsáve­l por apresentar ao casal Akishino, neste sábado (31), o Museu Histórico da Imigração Japonesa em Rolândia (PR), pequena cidade do norte paranaense aon- de os japoneses chegaram em 1935 para plantar café.

Egashira participou dos eventos de todas as viagens imperiais anteriores a Rolândia (incluindo o imperador Akihito, em 1978, e o próprio Akishino, em 1988). Agora, porém, será a primeira vez que poderá conversar com um dos príncipes. “Serão 20 minutos, e o que falarei na apresentaç­ão foi aprovado pelo consulado. Só vou dizer algo diferente se Sua Alteza me perguntar algo”, diz Egashira, para quem a ocasião será “uma grande honra”.

Ele conta já ter recebido muitas autoridade­s japonesas, mas reconhece se tratar de uma “situação especial”. “Isso é algo que talvez os mais jovens da comunidade não vejam como eu”, afirma.

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