Com grito e café, grupo ‘dobra’ vereadores
Táticas de moradores vão de abaixo-assinados a contratação de consultorias para convencer Câmara a modificar projeto
Em área nobre de SP, condomínio aprovou a criação de uma taxa extra para financiar o trabalho dos ‘lobistas’
Rotulado de elitista em diferentes audiências públicas e reuniões de debate da lei de zoneamento, um grupo de moradores da região da rua Estados Unidos, no Jardim América, zona oeste, se organizou, foi recebido pela prefeitura, acabou atendido pelos vereadores e virou referência para associações de outros bairros.
Marcelo Kneese, 50, um dos coordenadores do Movimento Mais Bairros Verdes e integrante da associação de moradores de Cerqueira César, mostra o que pode ser um dos segredos do grupo: discurso inflamado na Câmara e um bate-papo mais técnico quando sentado para um café.
Consultor financeiro, ele nega qualquer tipo de ligação política e afirma que todos os recursos para financiar o movimento vêm de colaboração dos próprios participantes.
O condomínio em que ele mora, inclusive, aprovou a cobrança de uma mensalidade exclusiva para esse lobby.
“Fizemos o trabalho técnico. Contratamos engenheiros para estudar o impacto do trânsito. Urbanistas para mapear os usos da [rua] Estados Unidos e escritórios de advocacia e de políticas públicas para nos assessorar”, diz.
O robusto dossiê chegou aos vereadores. “Fazemos tudo a pé. A questão é que não precisamos mais de prédios e comércios com muito impacto na rua Estados Unidos.”
O caso da Vila Moinho Velho, no Ipiranga (zona sul), é oposto ao da rua Estados Unidos, mas mostra também como um grupo de moradores pode fazer a diferença.
“Fomos à audiência pública aqui do bairro e, só então, começamos a entender o que era a lei de zoneamento”, afirma Selma de Freitas, em nome de moradores da região.
A agitação começou quando descobriram que as ruas de casas de classe média, erguidas décadas atrás, poderiam receber prédios altíssimos. Eles recolheram assinaturas e apresentaram o pleito em outra audiência no bairro, na qual chamaram a atenção de assessores dos vereadores.
Mas, como o projeto depende de duas votações na Câmara, tudo pode mudar até chegar para a sanção do prefeito.