Folha de S.Paulo

Melhor ator no Rio, Ariclenes Barroso está em três filmes

Jovem premiado no festival carioca por jogador amador de ‘Aspirantes’ também atua nos longas ‘Ralé’ e ‘Jonas’

- GUILHERME GENESTRETI

Cearense de 22 anos foi descoberto por ator do Teatro Oficina, vizinho a imóvel ocupado onde vivia com sete irmãos

Ariclenes Barroso já nasceu com nome de ator —é xará de Lima Duarte, que trocou o nome de batismo por um artístico. “Legal, né? Mas assumi o Ariclenes”, diz o cearense de 22 anos, que está em três filmes da Mostra de Cinema de SP —um deles, “Aspirantes”, valeu a ele o prêmio de melhor ator no Festival do Rio.

Homonímia à parte, atuar estava longe dos planos da família, formada por pai camelô, mãe e oito filhos, que migraram de Itapipoca (CE) para São Paulo quando Ariclenes tinha quatro anos. Foram morar numa ocupação vizinha ao Teatro Oficina, no Bixiga.

Um dos atores do grupo de Zé Celso, que ensinava capoeira no imóvel ocupado, indicou o garoto de nove anos para participar da epopeia teatral “Os Sertões”. “Fui jogado no meio do palco, aprendi meio que valendo”, diz Ariclenes, primeiro escalado para o papel de um bezerrinho que bebia leite jorrado dos seios de uma atriz.

Os pais tiveram algum receio. “São nordestino­s meio rigorosos. Minha mãe ficou emocionada, mas não gostou da temática, do nudismo, do que o Zé Celso pensa”, diz.

A diretora Helena Ignez, contudo, notou uma “presença mágica” ao ver o garoto no palco e o escalou para o primeiro longa de Ariclenes, “Luz nas Trevas” (2010). “Senti um encanto total”, ela afirma.

Helena voltou a selecionál­o neste ano para “Ralé”, que passa neste sábado (30), às 19h, na Mostra (MIS, av. Europa, 158, tel. 11-2117-4777). No longa, ele vive o filho de um xamã moderno interpreta­do por Ney Matogrosso.

Foi com o diretor carioca Ives Rosenfeld que Ariclenes ganhou seu primeiro (e premiado) protagonis­ta. Em “Aspirantes”, ele é Junior, jovem que sonha em ser jogador de futebol, mas é assolado pela gravidez da namorada e pelo ciúme que sente do amigo, contratado por um time.

“O Ari arrebenta nas cenas de silêncio, tem uma expressivi­dade incrível”, diz Rosenfeld.

São-paulino roxo, ele também topou o papel por seu “lado peladeiro”, conta o ator, que cabulava os ensaios no Oficina para jogar. “Iam me buscar nos campinhos. Eu chegava todo suado, e o Zé Celso com aquela cara”, diz.

“Aspirantes” passa nesta quinta (28), às 21h50, no Cine Belas Artes (r. da Consolação, 2.423, tel. 11-2894 5781).

Em “Jonas”, de Lô Politi, também na Mostra de SP, Ariclenes volta a atuar com Jesuíta Barbosa, ator para quem ele perdeu o protagonis­ta de “Tatuagem” (2013). Acabou pegando o papel menor do homofóbico soldado Gusmão.

Para interpreta­r um traficante perverso no filme de Lô Politi (exibido no domingo, 1º/11, às 15h, no MIS), ele disputou com outros atores, “todos fortes, altos e com cara de bravo”, lembra.

“Como fiz para ganhar? Gritei mais do que todos eles.”

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