Folha de S.Paulo

CRÍTICA Kitano faz rir da nossa fragilidad­e

Diretor do violento ‘Zatoichi’ usa humor para falar de aposentado­s da Yakuza de volta à ativa

- INÁCIO ARAUJO

FOLHA

Seja em seus filmes violentos, seja em suas comédias, Takeshi Kitano parece observar antes de mais nada a fragilidad­e do ser humano.

Em “Ryuzo e seus Sete Capangas”, estamos no registro da comédia. Um tipo de comédia que remete o espectador à tradição italiana.

No centro está Ryuzo, exintegran­te da Yakuza (para quem não sabe: Yakuza é uma organizaçã­o criminosa japonesa), hoje aposentado. Ele dirá uma frase que define bem seu estado de espírito: “O membro da Yazuka é como jogador de beisebol: muito bom enquanto está jogando, uma tristeza quando para”.

Antes conhecido como Ryuzo, o Demônio, hoje ele se bate com o passar dos anos, a degeneraçã­o do corpo (e da mente), a impaciênci­a do filho. E, sobretudo, com os novos gângsteres: mocinhos de terno preto e óculos escuros, ocidentali­zados, sem qualquer respeito pela tradição.

A nova geração não tem o menor respeito pelos velhos. Por isso, Ryuzo decide voltar à ativa, reúne um grupo de velhos camaradas e funda a Dragon One League.

Para se ter ideia do tipo de humor que o filme desenvolve, vejamos a cena em que os velhos membros da organizaçã­o chegam à portaria do prédio onde fica o escritório dos jovens gângsteres e se apresentam como a Dragon One para uma recepcioni­sta estarrecid­a: aquela gente, com aquele nome, só podia ser entrega de restaurant­e.

Mas ninguém se engane: por trás das tiradas felizes, do riso que provocam as situações, existe sempre a sombra de nossa fragilidad­e, dessa estranha tendência a mentalizar perfeitame­nte atos que o corpo já não pode executar.

Isso é que está na base do humor. Diante este cenário, rir está longe de ser a pior das soluções, não? (RYÛZÔ TO 7 SHICHININ NO KOBUN TACHI) DIREÇÃO Takeshi Kitano PRODUÇÃO Japão, 2015, 14 anos MOSTRA quinta-feira (29), 21h45, Espaço Itaú de Cinema - Frei Caneca 3; sexta-feira (30), 20h, Sesc Osasco; sábado (31), 22h, Cinearte 1; domingo (1º), 19h30, Espaço Itaú de Cinema - Frei Caneca 2; segunda-feira (2), 17h45, Cine Caixa Belas Artes Sala Spcine AVALIAÇÃO muito bom DIREÇÃO Paola Prestes PRODUÇÃO Brasil, 2015, 16 anos MOSTRA qui. (29), às 19h15 (Museu da Imagem e do Som) AVALIAÇÃO bom

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