MULTIDÃO
Presidente da Câmara estuda encomendar perícia para tentar derrubar as evidências de suas contas na Suíça
Mulheres lideram ato diante da Câmara Municipal do Rio contra Eduardo Cunha e projeto que dificulta o aborto legal; Comitê de Ética da Câmara dos Deputados recebeu pedido de cassação do presidente da Casa, que já arma defesa
Cumpridos todos os prazos previstos, votação sobre cassação pode só ocorrer em abril de 2016
DO RIO
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), atua em duas frentes para tentar barrar a cassação do seu mandato: em uma, age para protelar ao máximo a tramitação de seu processo. Em outra, monta a defesa para rebater as acusações de seu envolvimento no esquema do petrolão.
A Mesa da Câmara, comandada por ele, entregou ao Conselho de Ética às 13h13 desta quarta-feira (28) a representação que pede a cassação do seu mandato.
A Mesa usou praticamente todo o prazo regimental que tinha para cumprir a mera burocracia de numerar a representação –o ato levou ao todo 14 dias.
Cumpridos todos os prazos previstos no regimento (90 dias úteis, contagem que é suspensa no recesso parlamentar), uma eventual votação da cassação de Cunha pelo plenário da Câmara só vai acontecer na segunda quinzena de abril de 2016.
O próprio presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PSD-BA), que até então dizia esperar uma conclusão ainda neste ano, agora fala em março como um prazo razoável.
Questionado sobre a necessidade do uso de 14 para uma simples numeração, Cunha tem dito que se manteve distante desse assunto, tratado pela área técnica.
“Ao longo de sua vida, o deputado tem se especializado em utilizar todas as manobras legais que têm para impedir investigações sobre ilegalidades de que é acusado”, afirmou Chico Alencar (RJ), líder da bancada do PSOL, um dos partidos que assina a representação.
O Conselho marcou a sessão de instalação do proces- so para terça-feira (3), atraso de uma semana em relação ao cronograma original.
Além de esgotar todo o prazo, Cunha pretende mandar outros processos de cassação para o Conselho com o objetivo, dizem correligionários, de diluir as atenções do órgão. Entre eles contra Roberto Freire (PPS-SP) e Alberto Fraga (DEM-DF) devido a um bate-boca em plenário entre eles e a deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ).
A aliados, Cunha afirmou também que apresentará pessoalmente sua defesa no Conselho, dispensando o envio por escrito de seus argumentos. Segundo esses deputados, o peemedebista manterá a afirmação de que não é titular de contas na Suíça, mas dirá que a mulher, a jornalista Cláudia Cruz, tem empresa fora. E que a filha Danielle Dytz é apenas beneficiária de um cartão de crédito vinculada a essa empresa.
Cunha estaria estudando ainda a possibilidade de encomendar uma perícia nos documentos que o ligariam a essas contas, entre eles assinaturaatribuídaaeleecópiade seu passaporte diplomático.
A Procuradoria-Geral da República denunciou Cunha sob a acusação de envolvimento no petrolão e diz haver fortes indícios de que ele escondeu contas milionárias no exterior abastecidas pelo dinheiro desviado da estatal.
A intenção de seus aliados é tentar enterrar o processo já na apreciação do parecer preliminar para dizer se a representação é inepta ou não. “Acho que nenhum relator terá disposição de um parecer pela inépcia”, rebate José Carlos Araújo. ‘FORA CUNHA’ Aos gritos de “fora Cunha” e “Cunha é ditador” centenas de pessoas, a maioria mulheres, protestaram na noite des- ta quarta contra o projeto que entre outras coisas, dificulta o aborto legal e restringe a venda de medicamentos abortivos no país. O projeto, de autoria de Cunha, foi aprovado na CCJ da Câmara no dia 15, por unanimidade.
De acordo com a Polícia Militar do Rio, entre 400 e 500 pessoas compareceram ao ato, que se concentrou na Assembleia Legislativa do Rio. (RANIER BRAGON, DÉBORA ÁLVARES E LUCAS VETTORAZZO)