Disque-Denúncia do Rio aposta em aplicativo para agilizar combate ao crime
Informações recebidas no WhatsApp da ONG deram origem a 51 prisões desde 2014; origem das mensagens é mantida em sigilo
Passava das 11h de quinta (22) quando a foto de um rapaz de cerca de 30 anos chegou ao celular do Disque-Denúncia (DD) do Rio, por meio do aplicativo WhatsApp.
“Este é novo chefe do tráfico de drogas na favela Vila Aliança [zona oeste]”, dizia a mensagem que acompanhava a foto. O chefão anterior, Rafael Alves, 32, vulgo Peixe, havia sido preso em 15 de setembro pelo Bope (Batalhão de Operações Especiais) a partir de uma informação recebida da mesma maneira.
“A mensagem pelo aplicativo é precisa. Digo que é um ‘sniper’ digital. Um tiro certeiro”, diz José Antônio Borges, 74, o Zeca, coordenador do serviço. Para ilustrar a precisão, ele cita a prisão de um miliciano durante um baile funk três meses atrás.
“A informação era a de que o miliciano vestia uma cami- sa vermelha. Até que chegou a mensagem: ‘Ele trocou de camisa. Está agora com uma de cor branca’. Foi só avisar os policiais e o criminoso foi preso”, conta Zeca Borges.
A novidade chegou para aprimorar o serviço da ONG, que, em 20 anos de existência, encaminhou 20 mil denúncias que resultaram na apreensão de 10 mil armas.
Desde janeiro de 2014, foram 51 prisões após denúncias que chegaram pelo aplicativo. Se no início eram no máximo dez mensagens por dia, agora a média é de 60.
Na quinta (22), a Folha acompanhou o trabalho do DD via WhatsApp sem ter acesso aos números que entraram em contato com a ONG.
Entre 11h e 18h, 20 denúncias chegaram ao serviço. Dessas, 9 foram repassadas para a Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança e vão orientar investigações ou subsidiar inquéritos em andamento.
Um denunciante enviou endereços de esconderijos de traficantes em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio. Outro informou o paradeiro de um suspeito de assassinato cometido há três anos. As notícias são logo repassadas ao batalhão da PM.
Às 17h15, foi enviada a foto de uma submetralhadora que estaria sendo usada por traficantes do morro do Chapadão, comunidade localizada a um quilômetro do parque olímpico de Deodoro.
Para denunciar pelo aplicativo, basta enviar uma mensagem para o número da ONG —(21) 96802-1650— com os detalhes do caso em questão e aguardar a orientação de um atendente. “Garantimos o anonimato. Não queremos saber quem liga ou de onde vem a informação”, conta Zeca Borges.
Quando termina a troca de mensagens com o atendente, o denunciante é orientado a apagar as conversas.