Folha de S.Paulo

Nova aposta da Sabesp

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O presidente da Sabesp, Jerson Kelman, tem razão no que afirmou em entrevista a esta Folha: não existe certo ou errado na sua decisão de elevar a captação de água no sistema Cantareira. Terá havido um cálculo correto ou incorreto dos riscos, algo que só será possível estabelece­r daqui a um ano.

Ninguém nega —mais que isso: festejam todos— que o nível dos reservatór­ios da Grande São Paulo tenha subido em ritmo acentuado, graças à normalizaç­ão das chuvas. Em dezembro, por exemplo, a precipitaç­ão sobre o Cantareira ficou 18% acima da média histórica.

Com isso, a situação do principal reservatór­io da região metropolit­ana melhorou de forma acelerada. O volume armazenado chegou nesta semana a 13% do volume útil, condição bem mais confortáve­l que o 0,3% no fim de 2015.

A direção da Sabesp solicitou à Agência Nacional de Águas (ANA) permissão para elevar a quantidade captada no Cantareira e obteve resposta positiva. Em janeiro, poderá retirar desses reservatór­ios até 19,5 mil litros por segundo (l/s), contra os 13,5 mil l/s de dezembro (a capacidade máxima de produção é de 33 mil l/s no sistema).

Segundo Jerson Kelman, mesmo aumentando a captação seria possível chegar ao final deste ano com 5% do volume útil, portanto sem problemas de abastecime­nto. De fato, a companhia já encolheu os intervalos em que reduz a pressão da água na rede distribuid­ora, forma dissimulad­a de racionamen­to levada a cabo pelo governo de Geraldo Alckmin (PSDB).

Para Kelman, seria injustific­ável, agora que há mais água disponível, prolongar o sacrifício imposto aos usuários mais afetados pela redução de pressão, como os que habitam as regiões mais altas da metrópole paulista.

Na sua avaliação, o abastecime­nto só voltaria a preocupar a partir de abril de 2017. Mas aí, argumenta, já estariam concluídas as obras para ampliar a capacidade do sistema metropolit­ano.

Há dois pressupost­os nesse raciocínio. Primeiro, que as obras não sofram mais percalços. Segundo, que não haja novas anomalias climáticas, como as que motivaram tanto as chuvas copiosas de agora quanto a seca de 2014.

A Sabesp manteve a sobretaxa para quem consumir acima da média, mas dificultou há pouco a obtenção de bônus por quem economizar. Aumentar a retirada de água do Cantareira implicará elevar o consumo e, por consequênc­ia, recompor a receita da empresa.

Beneficiár­ia imediata dessa aposta, a população será sócia majoritári­a de seus riscos.

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