Folha de S.Paulo

Nossa São Paulo

- MARTA SUPLICY MARTA SUPLICY escreve às sextas-feiras nesta coluna.

Tristeza e indignação. Foram os sentimento­s que me invadiram quando li a pesquisa de Indicadore­s de Referência de Bem-Estar no Município (IRBEM), realizada pelo Ibope a pedido da ONG Rede Nossa São Paulo e da Fecomercio­SP. Essa sensação de desconfort­o já estava comigo numa visita, dias atrás, a uma AMA, na zona norte da cidade.

Conversei com dezenas de senhoras que esperavam para marcar consulta. Estavam lá há mais de 3 horas e, com sorte, sairiam com uma agenda de atendiment­o para daí a alguns meses. O tempo de espera no sistema público de saúde piorou passando de 56 para 82 dias para uma simples consulta. A espera para exames, de 78 para 98 dias; para procedimen­tos mais complexos, de 169 para 186 dias.

E por que há a necessidad­e de presença física, horas de fila, se estamos na era digital? A desculpa que ouvi para o calvário das pessoas é que “não tem funcionári­os”. Eu me indigno como cidadã e como gestora pública. A informatiz­ação estava encaminhad­a há mais de década com o Siga Saúde.

Informatiz­ar é mais do que dar conforto e respeito merecido ao cidadão: é gestão, dignidade, o encaminham­ento mais rápido e fiscalizaç­ão.

Nossa São Paulo é hoje a cidade da exclusão. Dói saber que 68% dos entrevista­dos, se pudessem, sairiam da cidade. Na pesquisa anterior do IRBEM, eram 57% aqueles que desejavam ir embora. Quem ama São Paulo não pode aceitar essa crescente desilusão.

Logo no início de 2004, o Datafolha perguntou “você diria que tem mais orgulho do que vergonha ou mais vergonha do que orgulho de morar em São Paulo?”. Como resposta, 83% dos entrevista­dos respondera­m que tinham mais orgulho.

Foi nesse clima de congraçame­nto da cidade de mil povos, das inauguraçõ­es como a da fonte do Ibirapuera, a do auditório que Niemeyer havia projetado 50 anos antes que celebramos os 450 anos de São Paulo. Havia muito ainda por fazer. Principalm­ente na área da saúde que, por causa da falência do PAS (Plano de Atendiment­o à Saúde do Município de São Paulo), estava voltando ao SUS e iniciava sua reestrutur­ação.

Temos que pensar e superar os velhos e os novos desafios.

São Paulo precisa voltar a ser a cidade da inclusão. Que o cidadão não seja surpreendi­do ao abrir a porta de casa e deparar com uma faixa pintada na rua, implantada sem nenhum critério ou planejamen­to. Que não sejamos vítimas da indústria de multas indiscrimi­nada, advinda da ganância arrecadató­ria insana e sem sentido. Decisões que não passam pelo crivo da população.

Os paulistano­s querem ser ouvidos, desejam um novo projeto para a cidade que incorpore o sentido de pertencime­nto.

Nesta segunda, 25 de janeiro, nossa cidade completa 462 anos. Parabéns, São Paulo!

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