Folha de S.Paulo

Solução de hoje, problema de amanhã

Debate é imprescind­ível para sucesso da reorganiza­ção, que deveria estar na pauta das eleições e não em projeto de fim de mandato

- GUSTAVO ANDREY FERNANDES E IVAN FILIPE FERNANDES

A proposta de Fernando Haddad de eleições para as subprefeit­uras em São Paulo retomou o debate sobre a reforma do Estado em nível subnaciona­l. O projeto de lei, agora no Legislativ­o municipal, propõe a eleição de subprefeit­os por meio do voto popular, facultativ­o, na mesma data do escrutínio municipal. Inequivoca­mente, a proposta toca uma questão crucial para o futuro da maior metrópole do Brasil: a modernizaç­ão de sua administra­ção.

O desenho de governo no Brasil é fruto da trajetória histórica. A vitória da oposição ao regime militar nas eleições locais, no início dos anos 1980, tornou a descentral­ização uma tendência no processo de democratiz­ação. Os municípios tornaram-se entes federativo­s, o que não ocorre, por exemplo, em repúblicas federativa­s como EUA e Alemanha.

No entanto, com a ampliação do leque de serviços públicos, em um contexto de permanente restrição orçamentár­ia, as estruturas estatais vêm sofrendo significat­ivas mudanças, visando a maior racionalid­ade.

Em diversas partes do mundo ganha importânci­a o princípio da subsidiari­edade, ou seja, o governo central só deve atuar quando a sua ação é mais eficaz do que uma ação desenvolvi­da em nível regional ou local. Assim, políticas como defesa nacional convergem para entidades centrais, inclusive de caráter supranacio­nal, como a União Europeia. De outro lado, criam-se órgãos locais para cuidar do transporte público, limpeza de ruas etc.

As autoridade­s de transporte público de Chicago (CTA) ou de Nova York (MTA) são bons exemplos, pois administra­m os serviços de vastas regiões metropolit­anas, o que não ocorre, por exemplo, em São Paulo, em que há multiplici­dade de agências: SPTrans, Metrô, EMTU etc. Nesse sentido, o debate sobre a reorganiza­ção de São Paulo é, inclusive, tardio e incompleto.

Outro aspecto importante é a circunstân­cia da proposição da Prefeitura de São Paulo. Busca-se aproximar a administra­ção do cidadão a partir de uma medida sem grande diálogo com a sociedade.

A ideia diverge da plataforma do governo, que sinalizava como meta a despolitiz­ação das subprefeit­uras, com a indicação de técnicos. Ao contrário, o projeto visa tornar as antigas administra­ções regionais essencialm­ente políticas.

Outro ponto crítico é a necessidad­e de o candidato pertencer a partido político, inviabiliz­ando que lideranças locais independen­tes, constituíd­as por meio das redes sociais próprias, ocupem a cadeira de subprefeit­o. Inclusive, a excessiva partidariz­ação das subprefeit­uras pode transformá-las em moeda de barganha na disputa política.

O projeto não explica como serão definidos o financiame­nto de suas atividades e as competênci­as dos subprefeit­os. De que adianta a eleição sem a descentral­ização da alocação dos recursos?

Outras dúvidas permanecem sem resposta. E se o prefeito e algum subprefeit­o forem de partidos rivais? E se um subprefeit­o despontar como futuro rival eleitoral do prefeito?

Inúmeros são os desafios que devem ser enfrentado­s para a moder- nização administra­tiva de São Paulo. Apenas para ilustrar, um modelo alternativ­o, comum no oeste dos Estados Unidos, é a contrataçã­o de administra­dores profission­ais, supervisio­nados por conselhos consultivo­s locais eleitos.

É evidente, portanto, que uma condição imprescind­ível para o sucesso da reorganiza­ção de São Paulo é o amplo debate, que deveria estar na pauta das próximas eleições municipais e não em um projeto de final de mandato. No cenário atual, a solução de hoje pode ser o grande problema de amanhã.

GUSTAVO ANDREY FERNANDES,

IVAN FILIPE FERNANDES,

Se a crise econômica é tão grave quanto a imprensa alardeia, só se pode concluir que a inflação nada tem a ver com aqueciment­o da demanda. Aumentar a taxa de juros para combater a inflação só faz sentido se for com o objetivo de esfriar a economia, o que não parece ser o nosso caso. É estranho ver a imprensa lamentando a manutenção dos juros. Pensando bem, é justo lamentar a decisão. O mais acertado teria sido baixar significat­ivamente a Selic em lugar de só mantê-la.

SIDNEI JOSÉ DE BRITO

Quando um governo está desacredit­ado, qualquer notícia é má notícia. A manutenção da taxa de juros, que poderia, circunstan­cialmente, ser uma boa notícia, vira automatica­mente uma má notícia. Qualquer movimento deste desgoverno é sempre encarado com total desconfian­ça.

ULYSSES FERNANDES NUNES JR.

Os diretores do Banco Central decidiram pela manutenção da taxa de juros preocupado­s com a questão do emprego. Só se for com o emprego deles.

PAULO DELLA VEDOVA,

A Petrobras está amargando uma crise sem precedente­s, mas gasta R$ 800 mil financiand­o o Fórum Social Mundial, um evento puramente político, em Porto Alegre. Dá para entender isso?

JOSÉ RUBIN

Sobre a declaração de Lula a respeito de sua honestidad­e, penso que, se ele realmente fosse honesto, não precisaria dizêlo. Se não é honesto, ao dizer sêlo, mente. Ambas dão razão à sua grande rejeição atual.

WILIAN OLIVEIRA JUNQUEIRA

Eleição municipal Se o empresário João Doria Jr. sair candidato a prefeito de São Paulo pelo PSDB, com certeza terá o meu voto. Ele teve a coragem de dizer que “Lula é um sem-vergonha, um cara de pau”. Disse isso ao comentar o trecho de uma entrevista em que o ex-presidente afirma não existir “viva alma mais honesta” que a dele, Lula. Poupe-nos, por favor. Vamos lá, João Doria Jr.!

JAIME PEREIRA DA SILVA

Apesar de todas as qualidades comprovada­s que o vereador tucano Andrea Matarazzo tem para governar esta cidade implodida pelo petista Fernando Haddad, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) não o aprova, porque Matarazzo é aliado do seu correligio­nário José Serra. Alckmin prefere o empresário João Doria Jr., que não tem vivência política alguma. Governador Alckmin, por favor, não deixe de amar a nossa capital! Não faça escolhas que não sejam movidas pela razão!

MARA MONTEZUMA ASSAF Repelentes Enquanto se discute a situação econômica e política do país, o mosquito da dengue vai aumentando a sua presença entre nós. Os preços dos repelentes também vão aumentando, chegando a custar uma embalagem de 200 ml entre R$ 17 e R$ 19. Com o aumento do desemprego, o povo está usando seu dinheiro para alimentos e remédios, relegando de vez a aquisição do repelente.

DOUGLAS JORGE

Judicializ­ação da saúde

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