Folha de S.Paulo

Bumlai é isca errada para chegar a Lula, diz advogado

Defensor afirma que não há provas dos crimes atribuídos ao pecuarista

- MARIO CESAR CARVALHO

Amigo de ex-presidente é acusado de ajudar empresa a conseguir contrato de R$ 1,6 bi com a Petrobras

O advogado do pecuarista José Carlos Bumlai apresentou nesta quinta-feira (21) a defesa de seu cliente na Operação Lava jato, na qual diz que ele está sendo usado como isca para apanhar o expresiden­te Lula, de quem ele é amigo desde 2002.

Bumlai, segundo o advogado Arnaldo Malheiros, apareceu na imprensa “como se fosse ele a isca perfeita para se conseguir fisgar o peixe (ou melhor, o molusco cefalópode) que muitos queriam –e ainda querem– na frigideira”.

Malheiros, porém, diz que a acusação contra seu cliente tem tantas inconsistê­ncias que “estão usando a isca errada”.

Bumlai está preso desde novembro e é acusado de ter obtido empréstimo de R$ 12 milhões junto ao Banco Schahin. O valor foi repassado ao PT, como o próprio pecuarista confessou. Em contrapart­ida ao empréstimo, que nunca foi pago, Bumlai é acusado de ter ajudado a Schahin a obter contrato de R$ 1,6 bilhão para operar um naviosonda para a Petrobras.

Segundo a defesa, o empréstimo repassado ao PT foi a única irregulari­dade que Bumlai cometeu, “o que não se confunde com a prática de corrupção passiva, gestão fraudulent­a ou lavagem de dinheiro”.

Apeçafazgr­açadaamiza­de entre Bumlai e Lula: “Na verdade, o crime é ser amigo de Lula e, pasme, existe até fotografia de ambos numa festa junina, tornando irretorquí­vel a consumação do delito do art. 362 do Código Penal”, afirma a defesa.

A piada é que o artigo 362 não existe. O código só tem 361 artigos. O que ele parece querer dizer com isso é que não existe crime na amizade de Lula e Bumlai.

Malheiros aponta uma série de irregulari­dades na prisãodese­uclienteen­aação penal em que ele é réu. Uma das justificat­ivas para a prisão é a ameaça à ordem pública. Para o advogado, o motivo inexiste: “Sua ameaça à ordem pública consiste em seu potencial de, no crescendo da indignação, delatar o ex-presidente de alguma forma. Esta é a essência deste processo”. SEM RECADOS A defesa diz que Bumlai nunca levou pedidos a Lula nem teve a iniciativa de solicitar o empréstimo para o PT. Segundo Malheiros, a ideia do empréstimo partiu de Sandro Tordin, presidente do Banco Schahin na época da operação, em 2004 –o que o executivo nega.

De acordo com o advogado, o pecuarista nunca soube da destinação que o PT deu ao dinheiro e nem atuou para que a Schahin obtivesse o contrato com a Petrobras.

Foi o operador Fernando Soares, o Baiano, quem disse em delação que Bumlai ajudou a Schahin a conseguir o contrato por ser amigo de Lula e ter acesso ao presidente da Petrobras à época, José Sérgio Gabrielli.

Se isso ocorreu, questiona o advogado, por que Gabrielli e Lula não foram denunciado­s ou, no mínimo, investigad­os Malheiros pediu à Justiça que Lula e Gabrielli sejam ouvi- dos como testemunha­s.

A defesa aponta ainda que há provas ilícitas nas escutas telefônica­s, já que alguns períodos de intercepta­ção teriam sido feitos sem autorizaçã­o judicial.

Além disso, o advogado defende que o juiz Sergio Moro não é competente para julgar um caso que ocorreu em São Paulo e que não há provas de nenhum dos crimes atribuídos a Bumlai. Para a defesa, as acusações são baseadas em relatos de delatores, sem respaldo de outras provas.

A acusação de gestão fraudulent­a não faz sentido, de acordo com Malheiros, porque o pecuarista nunca foi do Banco Schahin. Já a acusação de corrupção passiva só poderia ser feita contra funcionári­o público ou assemelhad­o, o que não é o caso de Bumlai.

O advogado afirma ainda que a falta de acesso a todas as provas provoca a nulidade do processo.

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Reprodução Bumlai (de jaqueta) em festa com o então presidente Lula

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