Contra fábrica no Paraná investe em roupa para bebê com citronela
FOLHA,
Há seis meses, uma indústria de Londrina, no interior do Paraná, decidiu investir em nanotecnologia: inseriu microcápsulas de citronela, um repelente natural de insetos, no tecido utilizado na sua linha de roupas, luvas, gorros e sapatos para bebês.
Deu certo. Os pedidos de pais, mães e gestantes assustados com a epidemia de zika, dengue e chigunkunya, doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, têm extrapolado a capacidade de produção da empresa, de 20 mil unidades por mês.
Hoje, existe até fila de espera, e a linha de produção foi ajustada para priorizar as peças com repelente.
A indústria abastece 2.500 pontos de vendas em todos os Estados do Brasil, dos quais 16 são lojas próprias.
“Depois do crescimento dos casos de zika, os pedidos aumentaram consideravelmente, sobretudo na região Nordeste, que responde por 15% do total de vendas”, diz Fábio Guerra Pereira, diretor comercial da GBaby. Da linha com repelente, 30% das vendas são para o Nordeste.
Pereira conta que uma empresa de Santa Catarina detém a patente de produção das microcápsulas com óleo essencial de citronela. A parceira produz e aplica o óleo no tecido e o envia ao Paraná para a confecção das roupas.
“O tecido passa por um banho num líquido com as microcápsulas, que são 80 vezes menores que um fio de cabelo, para a impregnação por meio de um fixador”, afirma.
A empresa diz que o repelente é eficaz por 30 a 50 lavagens e possui laudos que atestam a durabilidade.
As peças com citronela são mais caras que as equivalentes sem proteção. Em uma loja da GBaby em um shopping de Londrina, por exemplo, um kit com luvas, gorro e sapatinho com o repelente custa R$ 43,10. O mesmo kit sem a proteção sai por R$ 34,30.
O aroma cítrico da roupa é suave e não chega a incomodar. Agora, a GBaby planeja lançar uma linha para gestantes. Ao todo, a indústria paranaense produz 150 mil peças por mês e gera 250 empregos diretos —não foram contratados funcionários nos últimos meses. Outras linhas tiveram queda nas vendas, devido à crise econômica. MAIS TESTES Para a professora de cosmetologia do curso de farmácia da UEL (Universidade Estadual de Londrina) Audrey Garcia Lonni essas roupas espantam mesmo o mosquito, mas são necessários mais testes para saber por quantas lavagens elas funcionam.
“Considero alto o número de até 50 lavagens propagado pelo fabricante”, diz, acrescentando que receitas caseiras com repelentes à base de citronela não funcionam. “Para extrair o óleo essencial existe um processo de hidrodestilação, com equipamentos específicos.”
“É importante também usar repelente sobre a roupa, uma vez que o mosquito consegue picar mesmo por cima de tecidos”, afirma a dermatologista Heloisa Hofmeister.
A pediatra Cristiane Carvalho Lopes diz que bebês de até seis meses não devem usar repelente, devido à pele muito sensível, mas que a roupa com citronela é permitida porque o produto está impregnado nas fibras do tecido e não tem contato com a pele.
THIAGO AMÂNCIO,
DE BUENOS AIRES
O vírus da dengue se espalhou pela Argentina e chegou a Buenos Aires, onde os primeiros sete casos da doença foram confirmados nesta semana. No país, cerca de 1.100 pessoas já foram contaminadas. No mesmo período de 2015, eram 94 casos notificados e três confirmados.
Na quarta (20), o ministro da Saúde, Jorge Lemus, afirmou que a situação é “preocupante”, principalmente por causa dos surtos registrados no Brasil e no Paraguai.
Até agora, a maioria dos casos argentinos é de pessoas que estiveram nos países vizinhos e voltaram com a doença, mas já há o registro de casos adquiridos no local em pelo menos três províncias.
Na província de Buenos Aires, oito casos foram confirmados, três em Quilmes (a pouco mais de 20 km da capital) —a região está em alerta.
As províncias mais afetadas são Formosa, divisa com o Paraguai, e Misiones, limítrofe com o Brasil, onde a morte da professora aposentada María Nolasco, 60, no domingo (17) está sendo investigada.
O governo acompanha a situação de Santa Catarina, que receberá mais de 1 milhão de argentinos no verão, em relação ao vírus zika. O Estado brasileiro não teve nenhum caso. O chefe de gabinete do Ministério da Saúde da província de Buenos Aires, Roberto Chuit, disse à Folha que o governo não desaconselha viagens ao Brasil.