Folha de S.Paulo

Contra fábrica no Paraná investe em roupa para bebê com citronela

- WILHAN SANTIN Aedes LUCIANA DYNIEWICZ

FOLHA,

Há seis meses, uma indústria de Londrina, no interior do Paraná, decidiu investir em nanotecnol­ogia: inseriu microcápsu­las de citronela, um repelente natural de insetos, no tecido utilizado na sua linha de roupas, luvas, gorros e sapatos para bebês.

Deu certo. Os pedidos de pais, mães e gestantes assustados com a epidemia de zika, dengue e chigunkuny­a, doenças transmitid­as pelo mosquito Aedes aegypti, têm extrapolad­o a capacidade de produção da empresa, de 20 mil unidades por mês.

Hoje, existe até fila de espera, e a linha de produção foi ajustada para priorizar as peças com repelente.

A indústria abastece 2.500 pontos de vendas em todos os Estados do Brasil, dos quais 16 são lojas próprias.

“Depois do cresciment­o dos casos de zika, os pedidos aumentaram considerav­elmente, sobretudo na região Nordeste, que responde por 15% do total de vendas”, diz Fábio Guerra Pereira, diretor comercial da GBaby. Da linha com repelente, 30% das vendas são para o Nordeste.

Pereira conta que uma empresa de Santa Catarina detém a patente de produção das microcápsu­las com óleo essencial de citronela. A parceira produz e aplica o óleo no tecido e o envia ao Paraná para a confecção das roupas.

“O tecido passa por um banho num líquido com as microcápsu­las, que são 80 vezes menores que um fio de cabelo, para a impregnaçã­o por meio de um fixador”, afirma.

A empresa diz que o repelente é eficaz por 30 a 50 lavagens e possui laudos que atestam a durabilida­de.

As peças com citronela são mais caras que as equivalent­es sem proteção. Em uma loja da GBaby em um shopping de Londrina, por exemplo, um kit com luvas, gorro e sapatinho com o repelente custa R$ 43,10. O mesmo kit sem a proteção sai por R$ 34,30.

O aroma cítrico da roupa é suave e não chega a incomodar. Agora, a GBaby planeja lançar uma linha para gestantes. Ao todo, a indústria paranaense produz 150 mil peças por mês e gera 250 empregos diretos —não foram contratado­s funcionári­os nos últimos meses. Outras linhas tiveram queda nas vendas, devido à crise econômica. MAIS TESTES Para a professora de cosmetolog­ia do curso de farmácia da UEL (Universida­de Estadual de Londrina) Audrey Garcia Lonni essas roupas espantam mesmo o mosquito, mas são necessário­s mais testes para saber por quantas lavagens elas funcionam.

“Considero alto o número de até 50 lavagens propagado pelo fabricante”, diz, acrescenta­ndo que receitas caseiras com repelentes à base de citronela não funcionam. “Para extrair o óleo essencial existe um processo de hidrodesti­lação, com equipament­os específico­s.”

“É importante também usar repelente sobre a roupa, uma vez que o mosquito consegue picar mesmo por cima de tecidos”, afirma a dermatolog­ista Heloisa Hofmeister.

A pediatra Cristiane Carvalho Lopes diz que bebês de até seis meses não devem usar repelente, devido à pele muito sensível, mas que a roupa com citronela é permitida porque o produto está impregnado nas fibras do tecido e não tem contato com a pele.

THIAGO AMÂNCIO,

DE BUENOS AIRES

O vírus da dengue se espalhou pela Argentina e chegou a Buenos Aires, onde os primeiros sete casos da doença foram confirmado­s nesta semana. No país, cerca de 1.100 pessoas já foram contaminad­as. No mesmo período de 2015, eram 94 casos notificado­s e três confirmado­s.

Na quarta (20), o ministro da Saúde, Jorge Lemus, afirmou que a situação é “preocupant­e”, principalm­ente por causa dos surtos registrado­s no Brasil e no Paraguai.

Até agora, a maioria dos casos argentinos é de pessoas que estiveram nos países vizinhos e voltaram com a doença, mas já há o registro de casos adquiridos no local em pelo menos três províncias.

Na província de Buenos Aires, oito casos foram confirmado­s, três em Quilmes (a pouco mais de 20 km da capital) —a região está em alerta.

As províncias mais afetadas são Formosa, divisa com o Paraguai, e Misiones, limítrofe com o Brasil, onde a morte da professora aposentada María Nolasco, 60, no domingo (17) está sendo investigad­a.

O governo acompanha a situação de Santa Catarina, que receberá mais de 1 milhão de argentinos no verão, em relação ao vírus zika. O Estado brasileiro não teve nenhum caso. O chefe de gabinete do Ministério da Saúde da província de Buenos Aires, Roberto Chuit, disse à Folha que o governo não desaconsel­ha viagens ao Brasil.

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Eduardo Anizelli/Folhapress Funcionári­as da fábrica GBaby, que produz em Londrina (PR) roupas para bebê com citronela, repelente natural de insetos como o mosquito

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