Folha de S.Paulo

Thiago Fragoso é oficial de Hitler em ‘As Benevolent­es’

Ator está em adaptação do livro de Jonathan Littell, vencedor do Goncourt

- FABIANA SERAGUSA

Ideia, diz ator, ‘é causar embasbacam­ento, um choque e uma irritação com as provocaçõe­s que o personagem faz’

“No meu lugar, você teria feito o que eu fiz”, garante o oficial nazista Maximilien Aue em uma das cenas de “As Benevolent­es – Uma Anatomia do Mal”, que estreia nesta sexta (22) em São Paulo.

Responsáve­l por uma série de torturas e assassinat­os durante o Holocausto, o carrasco é a figura central do livro “As Benevolent­es”, lançado em 2006 pelo escritor francoamer­icano Jonathan Littell.

Best-seller na Europa e vencedora do prêmio Goncourt, na França, a obra chegou a ser comparada ao clássico “Guerra e Paz”, de Tolstói, pelo francês “Le Monde”.

Agora, os relatos frios e cruéis desse oficial que agia a mando de Hitler —e que não demonstra qualquer arrependim­ento por seus atos— chegam a um teatro brasileiro.

O monólogo tem direção de Ulysses Cruz (que recentemen­te encenou a peça “O Camareiro”, com Tarcísio Meira) e atuação de Thiago Fragoso.

“A gente não está fazendo um dramalhão, algo para que as pessoas sofram. A ideia é causar um embasbacam­ento, um choque e uma irritação com as provocaçõe­s que o personagem faz”, diz o ator, que pela primeira vez na carreira está sozinho em cena.

“Eu não tenho problema em lidar com responsabi­lidade, gosto de desafios.”

Ulysses levou anos até tirar esse projeto do papel —o desejo existe desde quando ele leu o livro, em 2007.

De lá pra cá, foram analisadas várias adaptações até que se chegasse à versão de Valderez Cardoso Gomes, que também assina a tradução. O espetáculo se concentra no primeiro capítulo da obra de Littel e pinça outros bons trechos do romance, que tem mais de 900 páginas. VIOLÊNCIA “A gente não está fazendo uma peça sobre a história do Holocausto”, enfatiza o diretor. “É para repercutir isso no mundo de hoje. A violência do nosso tempo é absolutame­nte explícita e tão cruel quanto foi naquela época.”

Sem muitos elementos em cena, têm forte presença a iluminação (de Caetano Vilela) e a sonoplasti­a (de Laércio Salles) do espetáculo.

As luzes e os sons dialogam com a atuação de Fragoso —que buscou expressões vigorosas na atuação. “Tudo foi feito para criar tensão, porque é um tema terrível, né?”, diz Ulysses, que conta com Leonardo Bertholini na assistênci­a de direção.

Carioca de 34 anos, Fragoso já vem pegando a ponte aérea desde o mês passado para os ensaios em São Paulo.

Ele conta que passa horas por dia treinando os movimentos em cena, a sincronia com as marcações de luz e os tons de voz de cada trecho.

“Eu estou com o pé todo machucado, tem esparadrap­o pra tudo que é lado”, diz o artista, que atua descalço “em um palquinho que tem uns 25 buracos”, segundo suas contas —para a cenografia, Veronica Valle criou um chão que se desmonta.

“Sangue, suor e lágrimas, isso é o melhor que eu posso fazer agora”, brinca. “Mas isso me dá mais motivação.” QUANDO sex., às 21h30, sáb., às 21h, dom., às 18h; até 28/2 ONDE Hebraica -Teatro Arthur Rubinstein , r. Hungria, 1.000, tel. (11) 3818-8888. QUANTO R$ 60 e R$ 80 CLASSIFICA­ÇÃO 14 anos

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