Folha de S.Paulo

Atuação desigual de elenco marca peça sobre Araguaia

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DE SÃO PAULO

A peça concebida por Gabriela Carneiro da Cunha, escrita por Grace Passô, dirigida por Georgette Fadel e desenvolvi­da por seis atrizes não tem encaminham­ento linear. Está mais para uma reunião de quadros que remetem às 12 mulheres do projeto revolucion­ário frustrado do PCdoB, nos anos 1960 e 1970.

De 69 no total, 59 guerrilhei­ros teriam sido mortos no Araguaia em três campanhas militares seguidas, por alguns milhares de soldados. Com vídeos de Eryk Rocha projetados no próprio palco e nas intérprete­s, contracena­ndo com seus corpos, a peça descreve cruamente a violência e a feminilida­de.

São atrizes em sua maioria jovens, resultando em atuação bastante desigual, assim como as cenas que representa­m. O quadro mais bem resolvido é uma aula sobre a bandeira nacional, por uma guerrilhei­ra, começando pelo questionam­ento da supressão de Amor no lema positivist­a “Ordem e Progresso”.

Interpreta­da pela própria Gabriela, retrata o que o espetáculo busca expressame­nte, ou seja, espelhar a força e a sensualida­de daquelas mulheres. A cena é pontuada por versos do “Hino à Bandeira”, de Olavo Bilac, talvez o mais belo —e nada militar, defensor da paz— dos hinos que a ditadura obrigava os estudantes a decorar e cantar.

Aqui e ali, surgem anacronism­os curiosos, como falar de Tocantins, Estado criado em 1989. Mas há problemas mais profundos, como a peça afirmar insistente­mente que as guerrilhei­ras lutavam pela liberdade, evitando constrange­doramente destacar a revolução ou o socialismo —o que, não tem outra palavra, trai sua memória.

Na mesma linha, “Guerrilhei­ras” abre com uma performanc­e em primeira pessoa da argentina Carolina Virguez, de presença forte, mas que já anuncia o que vem pela frente, ao defender o “liberalism­o econômico”, contra o ideal das 12 guerrilhei­ras, todas mortas, 11 ainda com os corpos desapareci­dos. (NS) QUANDO sex. e sáb., às 21h30, dom., às 18h30; até 31/1 ONDE Sesc Belenzinho, r. Padre Adelino, 1.000, tel. (11) 2076-9700 QUANTO R$ 20 CLASSIFICA­ÇÃO 18 anos AVALIAÇÃO bom

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