Após crimes, Guarda Civil teme Carnaval no parque Ibirapuera
Após crimes registrados no domingo, desfiles em frente ao parque preocupam equipe municipal
Integrantes do conselho gestor vão tentar barrar festa; secretário de Haddad diz que está havendo planejamento
Após episódios de violência no parque Ibirapuera (zona sul de São Paulo) no último domingo (17), a programação de blocos carnavalescos a partir deste mês na região se tornou motivo de dor de cabeça para moradores e responsáveis pela segurança.
A Guarda Civil Metropolitana prevê que a festa, com trios elétricos na frente do parque, vai dobrar de 120 mil para 240 mil a quantidade de visitantes dentro do Ibirapuera.
“Nossa preocupação é com interior do parque. As pessoas no Carnaval costumam beber. E na dispersão vão entrar onde? No parque”, afirma Carlos Alberto Souza Matos, inspetor e comandante da guarda do Ibirapuera.
Integrantes do conselho gestor do parque (formado por membros da sociedade e do poder público) acionarão a Promotoria nesta sexta (22) para tentar barrar os blocos.
O tema foi discutido em reunião na última quarta-feira (20), depois dos registros de arrastões (com oito vítimas) e de dois estupros dentro do parque no domingo.
A GCM atribuiu os episódios à realização de ao menos dois eventos simultâneos nesse dia: uma festa batizada de “rolezinho do beijo” e um encontro de “youtubers”. Ela estima que havia entre 50 mil e 70 mil pessoas no pico.
A gestão Fernando Haddad (PT) decidiu programar os desfiles de grandes blocos na avenida Pedro Álvares Cabral, que dá acesso ao parque, nos dias 30 (sábado) e 31 (domingo), na região do Monumento às Bandeiras e do Obelisco. Entre eles estão grupos famosos, como Monobloco, além do cantor Alceu Valença.
Os trios foram deslocados para lá como parte da estratégia da prefeitura de atenuar os danos na Vila Madalena (zona oeste) —houve transtornos com blocos ali em 2015.
“Está certo que esses são grandes blocos e, evidentemente, causa certa preocupação. Mas está tudo sendo planejado para evitar que haja grandes impactos”, afirma Nabil Bonduki, secretário municipal de Cultura.
Além desses dias, há previsão de outros blocos de Carnaval na região no mês que vem, porém menores.
“Nossa maior preocupação é com a depredação da fauna e da flora no parque. E lógico que nosso temor aumentou muito mais depois deste domingo”, afirma Karol Anness, uma das integrantes do conselho gestor do parque e de associação de moradores.
O comandante da GCM no parque admitiu a deficiência de segurança no último final de semana. “Não estávamos preparados para tanta gente”, afirma. Na ocasião, havia só 51 guardas no parque. Haddad promete dobrar o efetivo.
A preocupação é com interior do parque. As pessoas no Carnaval costumam beber. Na dispersão vão entrar onde? No parque
CARLOS ALBERTO SOUZA MATOS comandante da GCM no Ibirapuera
Administração acertou com grupos de jovens a realização do primeiro rolezinho oficial no parque, em fevereiro
O prefeito Fernando Haddad (PT) disse nesta quinta (21) que vai dobrar o efetivo da Guarda Civil Metropolitana no parque Ibirapuera no próximo fim de semana.
No último domingo (17), quando foram registradas denúncias de dois estupros e arrastões, havia 51 guardas espalhados pelos cerca de 1,6 milhão de metros quadrados.
A polícia atribui a explosão de casos de violência nesse dia à realização do “Rolezinho do Beijo”. Esses encontros viraram hábito entre adolescentes da periferia.
Em reunião com organizadores de rolezinhos, a prefeitura acertou a realização do primeiro evento oficial do tipo no Ibirapuera. Ele acontecerá no dia 28 de fevereiro e terá infraestrutura oferecida pela administração.
Uma das contrapartidas acertadas foi o cancelamento de outros rolezinhos agendados. “A partir de agora, se acontecer algo, os responsáveis devem responder na Justiça”, disse Darlan Mendes, presidente de uma associação de rolezeiros.
Para os blocos carnavalescos, o secretário Nabil Bonduki (Cultura) disse que há possibilidade de fechamento de alguns portões de acesso ao Ibirapuera e a colocação de cercas em monumentos.
Poderá haver controle de acesso de pessoas ao parque portando bebidas alcoólicas.
TRAUMA
A estudante de 18 anos que apresentou denúncia de estupro no parque disse que ainda se lembra das cenas de terror que viveu por cerca de uma hora. “Quero esquecer o que vivi”, afirmou, em entrevista à “Veja São Paulo”.