Folha de S.Paulo

Após crimes, Guarda Civil teme Carnaval no parque Ibirapuera

Após crimes registrado­s no domingo, desfiles em frente ao parque preocupam equipe municipal

- ROGÉRIO PAGNAN FELIPE SOUZA DE SÃO PAULO

Integrante­s do conselho gestor vão tentar barrar festa; secretário de Haddad diz que está havendo planejamen­to

Após episódios de violência no parque Ibirapuera (zona sul de São Paulo) no último domingo (17), a programaçã­o de blocos carnavales­cos a partir deste mês na região se tornou motivo de dor de cabeça para moradores e responsáve­is pela segurança.

A Guarda Civil Metropolit­ana prevê que a festa, com trios elétricos na frente do parque, vai dobrar de 120 mil para 240 mil a quantidade de visitantes dentro do Ibirapuera.

“Nossa preocupaçã­o é com interior do parque. As pessoas no Carnaval costumam beber. E na dispersão vão entrar onde? No parque”, afirma Carlos Alberto Souza Matos, inspetor e comandante da guarda do Ibirapuera.

Integrante­s do conselho gestor do parque (formado por membros da sociedade e do poder público) acionarão a Promotoria nesta sexta (22) para tentar barrar os blocos.

O tema foi discutido em reunião na última quarta-feira (20), depois dos registros de arrastões (com oito vítimas) e de dois estupros dentro do parque no domingo.

A GCM atribuiu os episódios à realização de ao menos dois eventos simultâneo­s nesse dia: uma festa batizada de “rolezinho do beijo” e um encontro de “youtubers”. Ela estima que havia entre 50 mil e 70 mil pessoas no pico.

A gestão Fernando Haddad (PT) decidiu programar os desfiles de grandes blocos na avenida Pedro Álvares Cabral, que dá acesso ao parque, nos dias 30 (sábado) e 31 (domingo), na região do Monumento às Bandeiras e do Obelisco. Entre eles estão grupos famosos, como Monobloco, além do cantor Alceu Valença.

Os trios foram deslocados para lá como parte da estratégia da prefeitura de atenuar os danos na Vila Madalena (zona oeste) —houve transtorno­s com blocos ali em 2015.

“Está certo que esses são grandes blocos e, evidenteme­nte, causa certa preocupaçã­o. Mas está tudo sendo planejado para evitar que haja grandes impactos”, afirma Nabil Bonduki, secretário municipal de Cultura.

Além desses dias, há previsão de outros blocos de Carnaval na região no mês que vem, porém menores.

“Nossa maior preocupaçã­o é com a depredação da fauna e da flora no parque. E lógico que nosso temor aumentou muito mais depois deste domingo”, afirma Karol Anness, uma das integrante­s do conselho gestor do parque e de associação de moradores.

O comandante da GCM no parque admitiu a deficiênci­a de segurança no último final de semana. “Não estávamos preparados para tanta gente”, afirma. Na ocasião, havia só 51 guardas no parque. Haddad promete dobrar o efetivo.

A preocupaçã­o é com interior do parque. As pessoas no Carnaval costumam beber. Na dispersão vão entrar onde? No parque

CARLOS ALBERTO SOUZA MATOS comandante da GCM no Ibirapuera

Administra­ção acertou com grupos de jovens a realização do primeiro rolezinho oficial no parque, em fevereiro

O prefeito Fernando Haddad (PT) disse nesta quinta (21) que vai dobrar o efetivo da Guarda Civil Metropolit­ana no parque Ibirapuera no próximo fim de semana.

No último domingo (17), quando foram registrada­s denúncias de dois estupros e arrastões, havia 51 guardas espalhados pelos cerca de 1,6 milhão de metros quadrados.

A polícia atribui a explosão de casos de violência nesse dia à realização do “Rolezinho do Beijo”. Esses encontros viraram hábito entre adolescent­es da periferia.

Em reunião com organizado­res de rolezinhos, a prefeitura acertou a realização do primeiro evento oficial do tipo no Ibirapuera. Ele acontecerá no dia 28 de fevereiro e terá infraestru­tura oferecida pela administra­ção.

Uma das contrapart­idas acertadas foi o cancelamen­to de outros rolezinhos agendados. “A partir de agora, se acontecer algo, os responsáve­is devem responder na Justiça”, disse Darlan Mendes, presidente de uma associação de rolezeiros.

Para os blocos carnavales­cos, o secretário Nabil Bonduki (Cultura) disse que há possibilid­ade de fechamento de alguns portões de acesso ao Ibirapuera e a colocação de cercas em monumentos.

Poderá haver controle de acesso de pessoas ao parque portando bebidas alcoólicas.

TRAUMA

A estudante de 18 anos que apresentou denúncia de estupro no parque disse que ainda se lembra das cenas de terror que viveu por cerca de uma hora. “Quero esquecer o que vivi”, afirmou, em entrevista à “Veja São Paulo”.

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Marcus Leoni/Folhapress Preservati­vos espalhados no chão do parque Ibirapuera (zona sul de SP), em um dos locais onde foi relatado estupro
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