Folha de S.Paulo

Antena perto de sítio foi um ‘presente’ da Oi para Lula

Amigo de petista articulou instalação próxima a imóvel, alvo da Lava Jato

- JULIO WIZIACK FLÁVIO FERREIRA DE SÃO PAULO

Amigo do ex-presidente Lula, o ex-sindicalis­ta José Zunga Alves de Lima foi o responsáve­l por obter a instalação, em 2010, de uma antena de celular da Oi próxima ao sítio frequentad­o pelo petista e sua família em SP.

A Folha apurou que Zunga, funcionári­o da Oi, fez gestões internas na empresa para que a antena fosse um “presente” para Lula.

Otávio Marques de Azevedo, então presidente de uma controlado­ra da Oi, deu aval ao pedido. Delator da Lava Jato, ele foi um dos executivos que decidiram investir na Gamecorp, empresa que tem como sócio um dos filhos de Lula, Fábio Luis.

Análise feita por engenheiro­s de telecomuni­cações, sob a condição de anonimato, indica que a obra custou cerca de R$ 1 milhão à época e foi feita com o objetivo de atender ao imóvel.

Após reportagen­s da Folha, a Lava Jato passou a investigar se um consórcio informal de empresas, entre elas Odebrecht e OAS, foi formado para a reforma do sítio.

Por meio da assessoria do Instituto Lula, o ex-presidente afirmou que não usa celular e “não tem comentário­s para ilações absurdas”.

Zunga negou ter participad­o do processo de instalação da antena. Procurada, a Oi não quis comentar.

José Zunga Alves de Lima foi indicado pelo petista para uma vaga na Anatel; ele é ligado a um dos donos do sítio

Amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-sindicalis­ta José Zunga Alves de Lima foi o responsáve­l por conseguira instalação, em 2010, de uma antena de celular da Oi próxima ao sítio frequentad­o pelo petista e sua família em Atibaia, no interior de São Paulo.

Segundo a Folha apurou junto apessoas que acompanhar­am a operação, Zunga, funcionári­o da Oi, fez gestões internas na empresa para que a antena fosse colocada como um “presente” para o petista.

Na Oi, o pedido foi conduzido pelo então diretor João de Deus Pinheiro Macedo e teve aval de Otávio Marques de Azevedo, presidente da AG Telecom, uma das controlado­ras da Oi e parte do grupo Andrade Gutierrez.

A Andrade é acusada de participar do esquema de corrupção na Petrobras investigad­o na Operação Lava Jato. Azevedo, principal executivo do grupo, ficou preso por quase oito meses eé réus ob acusação de corrupção e lavagem de dinheiro. As acusações não envolvem a Oi.

A instalação da torre próxima ao sítio pela Oi foi revelada nesta semana pelo jornal “Valor Econômico”.

Para construir a antena, a operadora—que tem o BNDES e fundos de pensão estatais como sócios— precisou alugar um terreno acerca de 100 metros da entrada da propriedad­e rural frequentad­a pelo presidente. Cálculos de engenheiro­s de telecomuni­cações indicam que a obra custou cerca de R$ 1 milhão entre equipament­os, licenças e taxas.

A antena da Oi é mais um indício, difundido por testemunha­s ouvidas pela Folha e depoimento­s colhidos pelo Ministério Público de São Paulo, de que uma espécie de consórcio informal de empresas dirigidas por amigos do expresiden­te bancou obras e melhorias no sítio.

Pelo menos três empresas teriam participad­o das reformas: a Usina São Fernando, do pecuarista e amigo doe xpresident­e José Carlos Bumlai, além de Odebrecht e OAS.

As três são investigad­as pela Lava Jato, que passou a apurar o uso do sítio por Lula. Os trabalhos na propriedad­e foram iniciados em outubro de 2010, quando o petista ainda estava na Presidênci­a.

Segundo a Anatel, a antena está equipada com tecnologia­s 2G e 3G, que permite chamadas de voz e acesso à internet. Só as estações da Oi espalhadas pela área urbana de Atibaia têm a mesma especifica­ção. Nenhuma concorrent­e — Vivo, TIM, Claro e Nextel— cobre a zona rural da cidade.

Por lei, as operadoras são obrigadas a instalar antenas para garantir que pelo menos 80% da área do município tenha acesso aos sinais. Caso contrário, são multadas pela Anatel (Agência Nacional de Telecomuni­cações). Naquele momento, a legislação do setor não obrigava as teles a garantir cobertura na área rural.

Mesmo assim, muitas delas acabaram instalando estações em estradas e até em vilas ou distritos desde que existisse “apelo comercial”.

Ainda segundo as empresas, os pedidos de políticos e empresário­s sempre foram frequentes. Mas raramente elas costumam atendê-los devido aos custos envolvidos.

Sob a condição de anonimato, engenheiro­s de telecomuni­cações que conhecem o local afirmam que, pela geografia da área e o mapa das antenas das outras operadoras, o equipament­o foi instalado só para atender o sítio.

Em geral, uma antena costuma ser posicionad­a em pontos elevados para espalhar seus sinais em ondas num raio entre 30 km e 50 km.

Mas esse alcance depende de vários fatores. Em áreas montanhosa­s, esse alcance é muito menor. E pode ficar ainda mais restrito se a antena estiver em áreas rebaixadas, como o local do sítio. Moradores em casas a cerca de 500 m da antena dizem que não conseguem sinal.

ANTENCEDEN­TES

Em 2008, Zunga foi indicado pelo próprio presidente Lula para ocupar uma vaga no conselho consultivo da Anatel. Foi afastado em 2010 por conflito de interesse porque era funcionári­o da Oi.

O sindicalis­ta presidiu uma associação do setor no passado quando conheceu Otávio Marques de Azevedo. Zunga também é ligado a Jonas Suassuna, um dos proprietár­ios do sítio e sócio de Fabio Luis, um dos filhos de Lula, na Gamecorp. Em 2005, a Oi comprou participaç­ão minoritári­a na companhia por R $5,2 milhões.

Três anos depois, Lula mudou a Lei Geral das Telecomuni­cações para permitir que a Oi comprasse a Brasil Tele com.

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Jorge Araújo - 5.fev.2016/Folhapress No alto, antena de celular da Oi em área próxima do sítio frequentad­o por Lula, em Atibaia
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AJUDA NA OI Amigo de Lula, José Zunga Alves de Lima trabalhou na Oi e foi quem solicitou a instalação da antena. Sindicalis­ta ligado ao PT, comandou a CUT no DF na década de 1990

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